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Rota do Cangaço: passeio pelo rio São Francisco e trilha até o local onde Lampião e seu bando foram mortos

Se não for o mais famoso, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, é, provavelmente, o mais controverso dos personagens nordestinos. Alguns o têm como um Robin Hood, outros, como um bandido violento. De personagens históricos a folclóricos, Lampião e seus cangaceiros, alguns deles são tidos até como santos, despertam ainda hoje, a curiosidade de muita gente. Na “Rota do Cangaço” conhecemos o final trágico de sua história. O passeio parte do município de Piranhas, Alagoas, onde descemos o rio São Francisco de lancha até a Fazenda Angicos para fazer a trilha que leva até o local onde Lampião, sua companheira, Maria Bonita e mais nove cangaceiros foram mortos.

A princípio, a ideia do passeio me pareceu um pouco mórbida, mas a Rota do Cangaço, além de ser um passeio pela história e cultura nordestinas, também inclui paisagens muito bonitas, como o vilarejo de Entremontes. Na Fazenda Angicos funciona um restaurante com uma ótima estrutura e ponto para banho no rio São Francisco.

Reflexo no Rio São Francisco

O passeio pode ser feito de catamarã (R$ 50 por pessoa) em grupos maiores ou de lancha (R$ 60 por pessoa, mínimo de 3), para quem deseja fazer em grupos privados. Normalmente, tanto as lanchas quanto os catamarãs saem do cais de Piranhas. Nós optamos pela lancha, pois tínhamos pouco tempo e queríamos sair mais cedo e, como estávamos hospedados na beira do rio, na Pousada Lampião Rio, acertamos para que fossem nos buscar lá. Como estávamos em 3 pessoas, compensou irmos de lancha.

Nosso guia Batista e a nossa lancha Vitória

Fizemos o passeio com Batista, que faz parte da associação de barqueiros de Piranhas. Ele veio nos buscar na lancha Vitória, bem novinha e com coletes salva-vidas a disposição (antes estávamos preocupados, pensando que iríamos em barquinho minúsculo).

Do cais da pousada, descemos o rio São Francisco, em direção ao distrito de Entremontes. A lancha segue pela divisa dos estados de Alagoas, lado esquerdo, e Sergipe, na direita. No total, percorremos 14 km pelo rio.

Entremontes

Entremontes

Passamos primeiro em frente ao centro histórico de Piranhas e, depois de uns 30 minutos, chegamos a Entremontes. O vilarejo é um distrito de Piranhas com casas antigas que mantém a arquitetura do período colonial. Entre eles, a chamada casa de Dom Pedro II, que teria sido o local onde o imperador ficou hospedado, quando passou em Entremontes, em 1859.

Cícero faz trabalho de guia em Entremontes, vestido de Lampião

Lá, fomos recebidos por ninguém menos que Lampião. =) Na verdade, Cícero de Oliveira, que se veste como o cangaceiro, para guiar turistas pelo vilarejo. Batista já tinha nos dito que Cícero era o melhor guia da região, mas que o passeio dele era demorado e que se a gente quisesse voltar na hora combinada, não teríamos tempo. Uma pena! =( Conversamos um pouco com Cícero e ele nos disse que não cobra pelo passeio guiado, recebe apenas contribuição voluntária.

Centrinho de Entremontes
Casa onde Dom Pedro II teria se hospedado em Entremontes

Fizemos uma rápida visita a Entremontes, que também é conhecida pelas bordadeiras, que fazem peças em redendê e ponto de cruz, vendidas por um bom preço. Se você quiser comprar algumas, leve dinheiro, pois elas não aceitam cartão de crédito.

Bordadeiras de Entremontes

Trilha na Fazenda Angicos

Restaurante Angicos

Depois de Entremontes, seguimos para o Restaurante Angicos. Escolhemos fazer a trilha por esse restaurante, pois é a original, feita pelos volantes que mataram Lampião e seu bando e também a mais curta, 680 metros, que leva entre 1h e 1h30, incluindo as explicações do guia. Mas existe outra opção para esse passeio que é fazer a trilha no Cangaço Eco Parque, que tem mais que o dobro de distância, 1,5 km.

Casa de Taipa do coiteiro que dava proteção a Lampião

A trilha custa R$ 10 por pessoa, valor não incluído no passeio de lancha ou catamarã, que é pago diretamente no restaurante.

A trilha começa na casa de taipa do coiteiro (coteiros eram as pessoas que davam apoio aos cangaceiros) Pedro de Cândido, que dava cobertura a Lampião na região. Nosso grupo tinha entre 15 a 20 pessoas, incluindo 3 crianças. Também um cachorro boxer fez todo o trajeto com a gente.

Nossa guia vestida de Maria Bonita

A guia que nos acompanha usa roupas de cangaceira e, ao longo do caminho, vai nos contando sobre história do cangaço e da emboscada que resultou na morte do grupo de Lampião.

O início da trilha é de subida, mas pior é o calor

A trilha não é difícil, mas tem vários trechos de subida (recomenda-se ir de tênis ou botas de trilha, mas muitas pessoas fizeram de chinelo). O calor em meio a vegetação da Caatinga é difícil de suportar. Então, lembre-se de levar água.

Lápide com os nomes de Lampião, Maria Bonita e outros nove cangaceiros mortos na Grota do Angico

Depois de uns 40 minutos de caminhada, chegamos a Grota do Angico, que pertence ao município de Poço Redondo, Sergipe. No local há três cruzes e duas lápides. Uma colocada, em comemoração do centenário de nascimento de Lampião, com os nomes de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), Maria Bonita e mais 9 cangaceiros que foram mortos no local. A outra lápide é em homenagem a Adrião Pedro de Sousa, volante morto pelos próprios companheiros.

A guia nos conta que a história de Lampião no cangaço começa em 1919, quando seu pai foi assassinado a mando de um coronel, na região de Vila Bela, atual Serra Talhada, em Pernambuco, por disputa de terras. Virgulino prometeu vingança e resolveu fazer justiça social com as próprias mãos, entrando para um grupo de cangaceiros.

Por 20 anos, Lampião viajou com seu bando de cangaceiros, que chegou a ter 50 homens, passando pelos estados de Pernambuco, Bahia, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Os ataques, que no começo eram só contra os coronéis, passaram também a ser contra pessoas inocentes e de todas as classes sociais.

No RN, o grupo de Lampião foi expulso a balas pelos moradores da cidade de Mossoró. Esse acontecimento é encenado no espetáculo Chuva de Bala no País de Mossoró, realizado na cidade, no mês de junho, junto com os festejos juninos. Na ocasião, o cangaceiro Jararaca foi morto e, depois de sua morte, foi considerado um santo pelo povo e, hoje, seu túmulo é o mais visitado na cidade no Dia de Finados.

Os únicos estados nordestinos que não foram atacados pelo bando de Lampião foram Maranhão, Piauí e Ceará. No Ceará o bando chegou a ir, mas não atacou pela devoção que Lampião tinha por Padre Cícero.

Para resumir, depois de anos do bando do Lampião tocando o terror na região, os governos dos estados nordestinos se reuniram para oferecer 50 contos de réis de recompensa a quem capturasse ou entregasse, de algum modo, Lampião à polícia.

Como tinha apoio em Sergipe do interventor do estado, Eronildes de Carvalho e tinha coiteiros na região de Poço Redondo e Piranhas, Lampião resolveu se esconder lá.

Foi descoberto quando o coiteiro Pedro de Cândido saiu para comprar alimentos em grande quantidade, em Piranhas, chamou atenção da população e foi denunciado pelo vizinho. A polícia montou um grupo de busca que saiu a procura do bando de Lampião, em 27 de julho de 1938, chegando a Grota do Angico no início da manhã de 28 de julho.

Na Grota do Angico estavam 35 cangaceiros, sendo 5 mulheres. Onze deles, incluindo Lampião e Maria Bonita foram mortos e tiveram suas cabeças arrancadas (alguns ainda em vida). As cabeças foram expostas como troféus na escadaria da Prefeitura de Piranhas, junto com armas dos cangaceiros (existe uma fotografia desse acontecimento que é bem conhecida). Depois, as cabeças percorreram vários estados nordestinos até estarem em adiantado estado de decomposição.

Eu sei, a história é pesada, e eu já contei muita coisa. Mas o passeio é bem interessante e a guia nos contou muito mais do que isso. Depois das explicações, fazemos a caminha de volta, que é bem mais fácil, pois é toda de descida. E ao final, teve banho revigorante no rio São Francisco.

O banho na prainha do Restaurante Angicos é a recompensa depois da trilha

A praia que se forma em frente ao restaurante tem a água bem cristalina, tem uma área de proteção, indicando até onde é raso. Algumas redes dentro d´água, no estilo de Jericoacoara, e algumas mesinhas com guarda-sóis na beira do rio. O restaurante é bem grande e tem mesas lá em cima, alguns gazebos e um esqui-bunda (cobrado a parte).

Navegando pelo Rio São Francisco bem na divisa de Alagoas e Sergipe

Nosso passeio durou cerca de 3h porque tínhamos que fazer o check out e pegar a estrada. Mas, normalmente, o passeio dura cerca de 4h ou 5h.

Batista Turismo (lancha)

(82) 996430408

(82) 988141799 (WhatsApp)

Empresas que fazem o passeio de catamarã

MFTUR 

CELIOTUR 

*Valores de janeiro de 2017. ´

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