Olá viajantes!
Hoje inauguro mais uma nova seção no Compartilhe Viagens, que batizei de “Viajantes”. Será um espaço onde a cada mês irei apresentar a vocês, por meio de uma entrevista ping-pong, uma pessoa para quem viajar é um modo de vida, seja por hobby ou trabalho.
E para começar com o pé direito, apresento-lhes Antônio José dos Santos. Toni, como é chamado pela família e pelos amigos ou Yellow como é conhecido pelos companheiros de trabalho, nasceu e foi criado em Belford Roxo (RJ), escolheu Natal para residir e constituir família, mas vive mesmo no mundo.
Em 21 anos de carreira como técnico de salvatagem, já esteve em 4 continentes e 20 países. Ele trabalha na empresa Titan Salvage, líder mundial em soluções para emergências marítimas complexas, como resgate de navios naufragados. E imaginem onde acontecem essas emergências? Na maioria das vezes, nos mares mais perigosos do mundo.
O trabalho é tão interessante e perigoso que ganhou uma série no National Geographic Channel, chamada em inglês de Salvage Red Code, e em português de Anjos do Mar. Yellow, inclusive, foi um dos entrevistados em um episódio gravado em Portugal.
Ao longo dessas mais de duas décadas de trabalho, Toni tem levado uma vida de renúncias, passando a maior parte do tempo longe de casa, da família e dos amigos, mas nunca ausente, pois está sempre procurando uma forma de encurtar distância e se manter presente. Sou testemunha disso há quase 10 anos, pois Toni é, na verdade, meu sogro.
Este post é uma pequena homenagem que presto a ele, que nesta terça-feira (1º) está aniversariando e, como em muitos anos, celebrará a data longe de casa e trabalhando, desta vez, na cidade de Alexandria, no Egito. Costumo dizer que ele não poderia ter nascido em outro dia que não fosse o Dia do Trabalhador.
Se por um lado, Toni teve que abdicar de muita coisa ao longo desses anos, por outro, a vida de viajante lhe rendeu experiências incríveis, contato com culturas diversas e pessoas de todo mundo. São muitas histórias para contar.
Então, vamos à elas!
Compartilhe Viagens: Explique para a gente como é o seu trabalho e há quanto tempo você está nele.
Antônio Santos: Trabalho com salvamento e remoção de destroços. Quando há acidentes marítimos, salvamos quando reflutuamos a embarcação junto com sua respectiva carga e fazemos a remoção quando não existe a possibilidade de salvamento. Estou neste negócio há 21 anos.
Ao longo deste tempo de trabalho, quantos países você já visitou? E quantos passaportes você já teve, você lembra?
Se me recordo corretamente, foram 20 países até o momento e 5 passaportes.
De todos os países que você já visitou, qual mais lhe marcou, e por quê?
Myanmar pela paz, humildade e inocência do povo, creio que por serem budistas, este é um país que gostaria de voltar um dia.
Quando você está em um país a trabalho dá tempo de passear, conhecê-lo melhor? O que mais lhe interessa em um lugar?
Costumo dizer que em meu trabalho todos os dias são segunda-feira, ou seja, não tenho muito tempo para passear. Procuro saber onde estão os pontos turísticos próximos e quando dá vou visitar, o que mais me interessa são as pessoas locais, procuro sempre aprender pelo menos dar um “bom dia” na língua deles.
No seu trabalho e visitando vários países, você já deve ter conhecido pessoas de várias nacionalidades. Em sua opinião, há muitas diferenças de comportamento entre pessoas de nacionalidades diferentes? O que principalmente as diferencia?
Não vejo grande diferença no comportamento quando se trata da vida cotidiana, creio que a diferença está na atitude de cada um.
Entre as culturas que você conheceu qual você considera mais distante (diferente) da brasileira? E por quê?
Apesar de não estar tempo suficiente para entender mais sobre eles, creio que a Egípcia seja a mais diferente porque mesmo com toda a facilidade de aprendizagem que a era do computador trouxe, eles parecem continuar vivendo e agindo como no passado.
Com relação à gastronomia. Fale um pouco sobre suas experiências. Já comeu algo muito exótico?
Eu não tenho o estômago muito forte, sou meio problemático com relação à comida. Na China, eu vi muita comida diferente tais como: pata de elefante, cachorro, cobra, escorpião, grilo e muitos outros. Só tive coragem de experimentar o grilo frito porque me disseram que o sabor lembrava a camarão, não chegou nem perto do camarão, mas deu pra comer. Na Indonésia, me chamaram atenção os temperos, são de cores variadas e sabores também, alguns doces, outros salgados, apimentados. Acabei pegando uma infecção no estômago que fui parar no hospital.
Você já foi vítima de algum preconceito ou xenofobia? Pode nos contar o que aconteceu?
Aconteceu diretamente uma vez. Tínhamos alguns ingleses, sul africanos, holandeses, americanos e brasileiro. Um dos ingleses começou a fazer provocações sem sentido dizendo que não gostava de sul americano e sul africano, até então deixei claro minha posição e me mantive a distancia, até próximo o final do trabalho que foi na China, ele veio tentar me agredir, primeiro verbalmente que prontamente respondi à altura, e não contente, ele veio para agressão corporal, daí não teve jeito, fui segurado pelos outros e ele tomou uma surra dos próprios compatriotas. O dono da empresa veio a bordo para festejar o êxito do trabalho bem finalizado, quando soube do ocorrido expulsou-o da confraternização e mandou de volta pra casa de classe econômica, enquanto que o restante do pessoal fez um tour na China com tudo pago pela companhia.
Você procura tomar alguns cuidados quando está fora do país? De que tipos?
Acho que é importante ter uma cópia da primeira página do passaporte e a do visto de entrada no país, caso haja algum imprevisto e uma muda de roupa na sua bagagem de mão, caso ocorra o desvio de bagagem. Outra coisa que descobri que é importante é saber pelo menos uma saudação na língua do país que está visitando.
Quando você está de férias, você gosta de viajar?
Férias. Esta palavra não está no meu dicionário porque estando em casa fico sempre em alerta, pois meu trabalho exige. Adoro pegar o carro e dirigir, mas prefiro estar com os meus entes queridíssimos, pois mais da metade da vida deles estive longe.
O que um viajante não pode deixar de levar em sua bagagem?
Uma câmera fotográfica.
Do que mais você sente falta quando está fora do Brasil?
De muitas coisas um pouco, a comidinha caseira, a família, o sossego e a segurança do meu lar.
Quanto tempo você chega a passar fora de casa?
Já fiquei 5 meses preso a um trabalho.
O que faz para matar as saudades da família enquanto viaja?
Eu prefiro dizer que não sinto saudade porque a saudade se mata com as facilidades de comunicação, então prefiro dizer a falta que eles me fazem e assim me conduzo de forma mais ativa para terminar o trabalho e voltar pra casa o mais rápido.
Qual a sua pior lembrança em um país estrangeiro?
Uma das minhas piores recordações foi o estrago que o furacão Katrina deixou nos Estados Unidos, e na Indonésia, o que o Tsunami fez com algumas ilhas.
Qual a sua melhor lembrança em um país estrangeiro?
Da China, pela sua história e pelo orgulho deles de serem chineses. Também me marcou o passeio que fiz pela muralha da China. Foi indescritível.
