No primeiro post sobre Londres comentei com vocês sobre o episódio da perda do meu voo Barcelona-Londres. Hoje conto com detalhes sobre o que aconteceu e as lições que aprendi com o fato, que no dia foi um verdadeiro aperreio, mas depois demos bastante risadas até que chegue a fatura do meu cartão de crédito com a compra da outra passagem! 😛
Quando estávamos planejando a viagem, decidimos que os trechos internos na Europa compraríamos por conta própria e não em uma agência. O trecho Barcelona-Londres teria que ser feito de avião, já Londres-Paris faríamos de Eurostar. Pesquisei o trecho aéreo entre as companhias de low-cost (baixo custo) e conversei com algumas pessoas que já tinham voado com esse tipo de companhia. Pelo preço, fiquei entre a Ryanair e a Easyjet. Porém, o preço da passagem da Ryanair estava muito mais atrativo e acabei ficando com ela.
Nas companhias de low-cost, o preço da passagem pode ser baratíssimo, mas além do seu direito de estar no avião, todo o resto tem que ser pago a parte: bagagem, além de uma única bagagem de mão de no máximo 10kg; check in prioritário já que os lugares não são marcados; e uma série de outros detalhes que nas companhias tradicionais já estão inclusos. Além da passagem, pagamos de extra 1 bagagem de até 15kg para cada e o check-in prioritário. Ainda assim saiu por XX euros. O que consideramos bem razoável.
O nosso voo estava marcado para as 11h50 e os portões de embarque fechavam às 11h20. Como estávamos na casa da minha prima, em Terrassa, município próximo a Barcelona, eles foram nos deixar no aeroporto. Por algum motivo demoramos mais do que devíamos e saímos bem em cima da hora e eu sem tomar água. Pode parecer estranho acrescentar esse detalhe. Mas explico: sou totalmente dependente de água, mas não como os seres vivos normais. Acho que tenho uma dependência emocional e assim como os viciados em cafeína ficam com enxaqueca e passam mal sem café, o mesmo acontece comigo sem água.
Assim, já nos 30 e poucos quilômetros rumo ao aeroporto fui ficando enjoada e só deu tempo de chegar ao estacionamento e encontrar a primeira lixeira para eu colocar todo o meu café da manhã para fora.
Já estávamos em cima da hora e saímos correndo para o check-in e foi aí que me dei conta do primeiro erro. Sem olhar para a passagem, fomos para o aeroporto certo porém o terminal errado. Fomos para o T1 quando dveríamos ter ido para o T2, só que T1 e T2 ficam separados por uma distância considerável que tinha que ser percorrida de carro. Saímos em disparada e mais uma vez erramos o lugar, fomos para o desembarque, entramos no carro de novo até chegar ao local correto. Estávamos em ritmo de 100 metros rasos, a coitada da minha prima com a filha nos braços e nós com as malas, chegamos ao check-in e já estava fechado, porém os funcionários disseram que poderíamos embarcar com as malas, aquelas que pagamos a parte.
Tivemos que carimbar as passagens, me despedi rapidamente da minha prima e entramos para a vistoria das malas. Minha respiração já estava ofegante, mas parecia que estava tudo resolvido. Como as malas iam dentro do avião, a segurança jogou todos os líquidos acima de 100 ml fora: shampoos, cremes, desodorante aerosol e uma série de coisas. Só o meu shampoo tinha custado quase R$ 100, mas ok eu ia embarcar.
Depois dali começou o pesadelo, o T2 de Barcelona parecia completamente abandonado sem funcionários para informar nada e a Ryanair sem ninguém para ajudar. Com o nervosismo, não conseguimos encontrar no telão o portão de embarque correto e corremos de um lado para outro, as minhas malas voavam sobre as escadas, até encontrar um que seria o portão e um funcionário que conseguimos falar e estava na pista de voo, entrou na sala para nos ajudar e disse: a essa hora o voo já partiu. No meio da correria, me ocorreu o outro problema que a falta de água mais esforço me causa, falta de ar, semelhante a uma crise asmática, junto com muito choro.
Comigo passando mal e crente que o voo tinha partido, Fred me sentou em uma cadeira de um café, comprou uma água e foi procurar alguma informação. Insisti com ele que o voo não tinha partido e fomos olhar de novo no telão, conseguimos descobrir o portão, saímos desesperados e eu, passando mal. Carimbamos o passaporte e estávamos confiantes que ia dar certo, quando chegamos ao lugar correto recebemos o veredito: o voo já partiu. Aí literalmente, sentei e chorei. Isso porque tínhamos passados uns 20 minutos a 30 enlouquecidos, sem nenhuma assistência, passando mal e agora não sabíamos o que fazer. Voltamos, tivemos os carimbos de saída, riscados e aí foi mais uns 10 minutos para sair do embarque, sem sinalização e ninguém para informar era difícil até encontrar a saída.
Conseguimos e fomos ao guichê da Ryanair. A informação que tivemos foi “perdeu, perdeu”. Teríamos que comprar outra passagem pelo preço normal e pronto e o voo só sairia no dia seguinte à noite, ou seja, inviável.
Começamos a pensar o que iríamos fazer, pois como já tínhamos as passagens para Paris compradas saindo de Londres se não fossemos para lá de todo jeito teríamos que comprar outras passagens. A essa altura minha prima já estava em casa crente que tínhamos embarcado. Pensamos em ligar para ela e ficar mais uns dias até Paris, ou em ir para outro país próximo de trem, em várias opções até que lembrei que ao meio dia seria cobrada a diária do hotel de Londres que tínhamos reservado pela internet. Então, Fred ligou para lá e pediu que cancelassem a reserva até que fosse resolvida a situação.
Decidimos então que seria melhor tentarmos ir para Londres com a Easyjet, que funcionava em outro setor mais distante do aeroporto. Fomos arrastando as malas até lá, esperamos a funcionária que tinha saído do guichê até que ela nos informou que tinha um voo que sairia para Londres às 15h40.Ufa! Chegaríamos lá no mesmo dia. O problema é que além da Easyjet ser mais cara da Ryanair comprar passagens em cima da hora é bem mais caro. Então, acabamos desembolsando (leia-se passando o cartão de crédito) 620 euros. E foi aí que aprendi outra lição: em companhias de low-coast, bolsa de mulher conta como bagagem de mão, então acabamos pagando por 3 bagagens extras ao invés de 2. Mas o problema tinha sido resolvido…
No meio da compra da passagem aconteceu um episódio engraçado que na verdade só viemos entender a graça bem depois. Ao preenchermos o nosso endereço, a atendente perguntou é Maria de que?, questionando o nome da rua. Fred responde: Lacerda. E ela começou a rir desesperadamente. Perguntamos o que significava e ela descontrolada respondeu: pic. Continuamos sem entender, mas rimos para não passarmos por loiras (brincadeirinha).
Já de volta ao Brasil, contei o episódio a minha prima e ela me explicou que em espanhol La cerda, separado, significa a porca. Então o nome da rua seria Maria, a porca. Só aí já seria bem engraçado, só que por lá, quando se quer xingar muito uma mulher, usa-se justamente essa palavra, assim como usamos no Brasil, cachorra ou piranha. Aí sim, dei uma de loira, chorei de rir após entender a piada tardiamente. E entender que piq na verdade era pig, porco em inglês, já que estávamos conversando no idioma.
O clima descontraído e de final feliz logo foi interrompido quando Fred foi ligar novamente para o hotel de Londres para refazer a reserva. O telefone público fica em outra parte do aeroporto, então ele foi e eu fiquei só. Quando ele voltou me deu a notícia: não deu certo, só pela internet. Cheguei a pensar que ele estava brincando, mas não.
E agora? Londres tem uma das imigrações mais exigentes, aliás, para entrar lá se tira um visto na hora e sem hospedagem ficaria impensável entrar lá. Além do que caso, conseguíssemos, como iríamos chegar lá a noite e procurar um lugar para ficar.
Compramos a internet oferecida pelo o aeroporto e tentamos de toda forma reservar o hotel, mas não dava certo de jeito nenhum. Foi aí que pedi a Fred para ligar novamente para o hotel e tentar alguma solução. Quando ele ligou o atendente saiu com essa: senhor, já te disse duas vezes e vou dizer a terceira, a sua reserva está feita. Pode vir.
Foi ai que caímos na gargalhada. Dessa vez de alívio. Fiquei entre o choro e o riso numa cena ridícula. O que aconteceu que aperreado com a situação, toda vez que o atendente dizia que a reserva estava garantida porque tinha sido feita pela internet, Fred entendia que só estava garantida se fosse feita pela internet.
Passado tudo isso, já era hora de embarcar. Ainda tive tempo de ligar para minha mãe e desejar um Feliz Dia das Mães, mas não aguentei o choro. Que falta faz uma mãe numa hora dessas!
O embarque e voo foi tranquilo. O tratamento da Easyjet foi completamente diferente do da Ryanair e o resto vocês já sabem ou se não leiam aqui!
Revisando as lições: chegue sempre com antecedência; tome água antes de sair; leia sempre a passagem para saber qual o aeroporto e terminal; olhe bem o telão com os portões de embarque; e se for de low-cost, bolsa de mulher é considerada bagagem de mão.