Novo Coronavírus na Itália: Depoimento da brasileira Adja Medeiros sobre como está o país com a quarentena

Na última segunda-feira (9 de março), o governo italiano anunciou quarentena para todo o país, que antes se restringia a algumas províncias da região norte. Foi necessário medidas drásticas para a contenção do Novo Coronavírus. A orientação é para só sair de casa para fazer o que for estritamente necessário e evitar aglomerações, mantendo pelo menos 1 metro de distância entre as pessoas. Escolas e universidades vão permanecer fechadas até o dia 3 de abril. Viagens só podem ser feitas com justificativa médica, motivos de trabalho ou familiar ou situações de extrema necessidade. A campanha para que os italianos não saiam de casa está modificando bastante a vida social e o dia a dia da população.

Atualização 1 (11/03, às 22h13): Hoje o primeiro ministro italiano, Giuseppe Conte, fez um novo pronunciamento, e a partir desta quinta (12), só funcionarão os estabelecimentos de necessidades básicas, como supermercados, farmácias e bancos. Todos os outros estabelecimentos deverão ficar fechados. Além disso, a orientação é para que caso seja necessário resolver algo fora de casa, sai  apenas uma pessoa por família por vez. As novas medidas são válidas até 25 de março.

Atualização 2 (11/03, às 22h13): Hoje a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia do coronavírus.

Batemos um papo exclusivo com a Adja Medeiros, brasileira, de Natal/RN, que mora na cidade de Calenzano (província de Florença), e é bolsista de pesquisa na Universidade de Florença e que está vivendo todo este drama por lá. Veja o depoimento dela:

Adja Medeiros é bolsista de pesquisa na Universidade de Florença
Adja Medeiros é bolsista de pesquisa na Universidade de Florença

 

 

A recomendação é de entrar poucos clientes por vez nos supermercados. Foto: Adja Medeiros
A recomendação é de entrar poucos clientes por vez nos supermercados. Foto: Adja Medeiros

“Em meados de fevereiro deste ano foi onde descobriram o primeiro caso do Novo coronavírus (Covid-19) na Itália, no Norte. E, até então, o vírus foi se propagando até atingir de forma mais alarmante 14 províncias, que eram consideradas zona vermelha e estavam bloqueadas: ninguém podia sair ou entrar de lá, sem alguma justificativa, ou de trabalho ou de saúde. Semana passada, o governo lançou um decreto que as escolas e universidades iriam ficar sem funcionar até o dia 15 de março. E com o decreto de 09 de março, as escolas e universidades continuam sem funcionar até o dia 03 de abril e agora toda a Itália está confinada. Ou seja, ninguém entra ou sai sem uma justificativa. No site oficial do governo tem um modelo de autodeclaração, que quem precisa se movimentar pela Itália deve apresentar com a justificativa e se responsabilizando pelas informações ali contidas. Quem não estiver seguindo as normas do decreto, pode ser multado (até 206 euros) ou até preso (por até três meses) e reclusão de 1 a 12 anos para quem deve estar em quarentena ou se for positivo ao vírus e estiver circulando nas ruas.

Os supermercados estão funcionando normalmente, mas com o novo decreto muitas pessoas estão com medo e estão indo ao supermercado para poder estocar comida e água. Por causa dessa grande movimentação de pessoas nos supermercados e por causa das normas do novo decreto, dependendo do tamanho do estabelecimento, entra uma certa quantidade de pessoas em um determinado período de tempo. Por exemplo, em um supermercado grande aqui perto de casa, estavam entrando 50 pessoas a cada 15 minutos. Mas na farmácia, que é bem pequena, só estava entrando uma pessoa de cada vez. A fila era do lado de fora e cada pessoa mantendo um metro de distância da outra.

Eu sou bolsista de pesquisa na Universidade de Florença e até 09 de março nós estávamos indo trabalhar normalmente, só mantendo a distância de pelo menos um metro entre as pessoas, sem cumprimentar com beijos e abraços e lavando sempre as mãos. A partir do anúncio do novo decreto, a minha Professora nos orientou para trabalharmos de casa, escrevendo artigos e realizando pesquisa bibliográfica. Mas para professores e pesquisadores ainda está autorizado ir trabalhar, só não vamos porque temos a opção de trabalharmos de casa.

Autodeclaração para viajar na Itália
Autodeclaração para viajar na Itália

Então, a recomendação é só sair de casa para trabalhar ou comprar o essencial, que é comida ou itens essenciais, como lâmpada, caso tenha queimado. Lojas, supermercados, estão funcionando. Bares e restaurantes só podem funcionar até às 18:00 e os estabelecimentos devem organizar para que as pessoas mantenham sempre um metro de distância.

Hoje fomos a um supermercado grande e tinha fila do lado de fora, todos seguindo a recomendação de distância e resolvemos tentar ir em outro supermercado, menor. Ao chegarmos lá, não tinha fila e tinham poucas pessoas no interior. O supermercado estava bem abastecido de frutas, carnes e todos os itens essenciais de higiene. Inclusive, encontramos, por acaso, álcool em gel para as mãos, que é um item raro de se ver hoje em dia. Mas vale salientar que cada local vivencia situações diferentes. Nós somos privilegiados porque aqui fica em um local estratégico, perto de autoestrada e onde tem distribuidoras alimentícias. Pode ser que em outras cidades, as pessoas estejam enfrentando dificuldades maiores.

A recomendação é ficar em casa, mas se quiser aproveitar o sol e dar uma caminhada perto de casa, levar cachorro para dar uma volta, é permitido. Só devemos todos ter consciência da gravidade da situação, pela velocidade da propagação do vírus e cada um fazer a sua parte para conter essa propagação, para que o sistema sanitário do país consiga atender todas as demandas.

Que eu saiba só uma parte do aeroporto de Milão está fechada. Alguns voos continuam operando por lá. Os outros estão funcionando normalmente. Mas muitos voos estão sendo cancelados. Então, quem vai viajar, deve ficar sempre olhando o estado do voo, para ver se foi cancelado ou não. Mas a orientação é de só viajar se for extremamente necessário. Se for turismo, a recomendação é adiar. E quem for entrar ou sair da Itália ou até mesmo viajar pela Itália, entre diferentes províncias, deve apresentar essa autodeclaração, justificando a viagem.

Em um grupo do Facebook de brasileiros na Itália, do qual faço parte, tem um relato de uma pessoa que não está conseguindo voltar pro Brasil, pois o voo dela foi cancelado. Então até o dia 03 de abril, que é a validade desse decreto, acho bem difícil alguém conseguir viajar para dentro ou fora da Itália.”

Foto em destaque: Fila na frente de supermercado em Sesto Fiorentino, província de Florença. Foto: Adja Medeiros.


Eu não me sinto italiano, mas por sorte ou infelizmente o sou

Antonino Condorelli
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Twitter: @el_condor76

A trilha sonora deste post é Io non mi sento italiano, de Giorgio Gaber. Ouça e assista:

Para o Grão-Duque Cosme I De’ Medici não era prudente deixar-se ver nas ruas de Florença em 1565. Após o golpe de estado de Cosme o Velho que, em 1434, tinha posto fim à República Florentina – embora mantendo formalmente suas instituições comunais – e transformado a cidade numa Signoria (monarquia hereditária) sob o controle da dinastia dos Medici[1], o representante de turno da família mandatária não era muito apreciado e a história ensinava que as ruas da cidade não eram um lugar seguro para seus governantes. A Conspiração dos Pazzi de 1478 contra Juliano e Lourenço De’ Medici, que tinha custado a vida do primeiro, estava – entre outros sangrentos episódios – lá para lembrá-lo. Como fazer, então, para mover-se com segurança e sem ser visto entre a sede do governo, o Palazzo Vecchio, e sua residência particular, o Palazzo Pitti? E para celebrar umas bodas seguras entre seu filho, Francisco, e Joana de Habsburgo, casamento que selaria uma importante aliança com a dinastia no poder na Áustria?

A solução lhe foi apresentada pelo arquiteto Giorgio Vasari, artista poliédrico – como a grande maioria de sua época, não dominada pela hiper-especialização contemporânea dos saberes e das habilidades – responsável pelo projeto da Galleria degli Uffizzi, pintor de várias obras nos salões do poder do Palazzo Vecchio e autor de Vidas dos Artistas, obra inaugural da história da arte ainda hoje seminal para o estudo da arte renascentista. Vasari concebeu e fez construir em apenas cinco meses um corredor sobrelevado que liga o Palazzo Vecchio ao Palazzo Pitti passando por dentro da Galleria degli Uffizzi, ladeando o Rio Arno, atravessando o Ponte Vecchio, contornando a Torre dei Mannelli – residência de outra família poderosa, que se recusou a deixá-la abater e se mudar para outro lugar – e passando por dentro da Igreja de Santa Felicita. Em homenagem ao seu criador, a obra ficou conhecida como Corredor Vasariano.

Hoje o Corredor Vasariano – cuja estrutura seria incapaz de suportar visitas diárias de milhares de pessoas, comuns nos museus e igrejas florentinas – fica a maior parte do tempo fechado, às vezes durante anos, muito raramente abrindo por curtos períodos para visitações agendadas.

Visual de Florença desde o Piazzale Michelangelo - 31 de dezembro de 2011
Visual de Florença desde o Piazzale Michelangelo – 31 de dezembro de 2011

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Encontros

A trilha sonora deste post é Encontros e Despedidas, de Milton Nascimento. Ouça e assista:

Toda jornada é um movimento em direção ao outro: o encontro é conatural ao viajar. O encontro com outras pessoas, com outras culturas, com outros ambientes, com outras paisagens: enfim, o encontro com a alteridade. Uma alteridade que pode apenas nos confirmar, fortalecendo por meio da afirmação de nossa (aparente) diferença nossas certezas, hábitos, conceitos e comportamentos, mas que pode também pôr-nos em jogo, provocar-nos, instigar-nos a sair (pelo menos em parte) de nossos reflexos, nossas maneiras usuais de ser, de pensar e de agir, enriquecendo nossa humanidade.

Esse abalo criativo só acontece, porém, quando ao deslocar-nos para outros lugares adotamos um espírito viajante, uma atitude de abertura receptiva para o mundo à nossa volta; quando suspendemos temporariamente (ou ao menos tentamos suspender) nossos julgamentos, nossos pressupostos (os dos quais temos consciência), nossas tendências – aparentemente espontâneas, mas que na verdade são um produto em constante (re)construção de nossa biografia e nossa interações – sensoriais, perceptivas, cognitivas e comportamentais.

Viajar é sempre uma oportunidade para encontros transformadores
Viajar é sempre uma oportunidade para encontros transformadores

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O Vagamundo: No fim da viagem está o horizonte

Olá viajantes! 

Hoje já estou no Velho Continente, mas como disse, não esqueci de vocês. E como em toda segunda terça-feira do mês, hoje é dia da coluna O Vagamundo por Antonino Condorelli. 

Na crônica deste segundo post de O Vagamundo, Condorelli conta sobre um episódio na Cuba de 1997, onde pela primeira vez sentiu o medo da morte de perto. 

As fotos, Antonino explica que foram feitas em câmera analógica e devem estar em algum baú empoeirado na casa de seus pais em Florença, na Itália. Conseguimos pelo menos uma. 

Façam uma incrível viagem!

Leia o segundo post de “O VAGAMUNDO”: No fim da viagem está o horizonte”.


Caminhante, são tuas pegadas o caminho, e nada mais

condor_76@hotmail.com
@el_condor76

A trilha sonora deste post é Cantares – Letra: Joan Manuel Serrat e Antonio Machado; Música e interpretação: Joan Manuel Serrat.

Sou europeu e fui adotado pela América do Sul. Ao longo de mais de trinta anos de existência, vivi em três países de diferentes continentes e passei longos períodos em outros dois. Sempre que pude, embora não tanto quanto teria gostado, devido a uma situação financeira sempre instável, fiz longas viagens de mochila pelo mundo. Sempre me senti atraído pelo encontro com o diferente; sempre procurei o deslumbramento, a vertigem, centelhas de significado para a minha existência no contato com outros lugares, outros povos, outras paisagens, no mergulho – embora por períodos breves – em ambientes não-urbanos. Sempre senti um impulso irresistível para o conhecimento e a mestiçagem com outros estilos de vida, com outras maneiras de pensar o mundo e de vivê-lo. Nunca me senti enraizado em lugar algum, sentindo à flor da pele aquela sensação de estrangereidade que Claude Lévi-Strauss, em Tristes Trópicos, assumiu como sua condição permanente, um sentimento de estranhamento constante que o fazia sentir-se estrangeiro em qualquer lugar, inclusive em sua cultura de origem.

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Roma: uma viagem à cidade eterna

Olá viajantes!

Hoje vamos fazer uma viagem à cidade que respira história e cultura. O berço da civilização ocidental, Roma, é um dos destinos mais desejados no mundo, por seu patrimônio histórico, cultural, religioso e gastronômico.

Quem nos leva a esse passeio pela capital italiana é a engenheira eletricista, formada pela UFRN, mestre  em Planejamento Energético pela Unicamp e  servidora pública, especialista em regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, Alexandra Sales, natalense, residente em Brasília (DF).

Com o casamento perfeito do texto com as fotos, Alexandra nos leva a sonhar com uma visita à Cidade Eterna e de quebra ao Vaticano, sede da Igreja Católica.
Buon viaggio!

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