Antonino Condorelli
condor_76@hotmail.com
Facebook: Antonino Guarani Kaiowá Condorelli
Twitter: @el_condor76

A trilha sonora deste post é Io non mi sento italiano, de Giorgio Gaber. Ouça e assista:

Para o Grão-Duque Cosme I De’ Medici não era prudente deixar-se ver nas ruas de Florença em 1565. Após o golpe de estado de Cosme o Velho que, em 1434, tinha posto fim à República Florentina – embora mantendo formalmente suas instituições comunais – e transformado a cidade numa Signoria (monarquia hereditária) sob o controle da dinastia dos Medici[1], o representante de turno da família mandatária não era muito apreciado e a história ensinava que as ruas da cidade não eram um lugar seguro para seus governantes. A Conspiração dos Pazzi de 1478 contra Juliano e Lourenço De’ Medici, que tinha custado a vida do primeiro, estava – entre outros sangrentos episódios – lá para lembrá-lo. Como fazer, então, para mover-se com segurança e sem ser visto entre a sede do governo, o Palazzo Vecchio, e sua residência particular, o Palazzo Pitti? E para celebrar umas bodas seguras entre seu filho, Francisco, e Joana de Habsburgo, casamento que selaria uma importante aliança com a dinastia no poder na Áustria?

A solução lhe foi apresentada pelo arquiteto Giorgio Vasari, artista poliédrico – como a grande maioria de sua época, não dominada pela hiper-especialização contemporânea dos saberes e das habilidades – responsável pelo projeto da Galleria degli Uffizzi, pintor de várias obras nos salões do poder do Palazzo Vecchio e autor de Vidas dos Artistas, obra inaugural da história da arte ainda hoje seminal para o estudo da arte renascentista. Vasari concebeu e fez construir em apenas cinco meses um corredor sobrelevado que liga o Palazzo Vecchio ao Palazzo Pitti passando por dentro da Galleria degli Uffizzi, ladeando o Rio Arno, atravessando o Ponte Vecchio, contornando a Torre dei Mannelli – residência de outra família poderosa, que se recusou a deixá-la abater e se mudar para outro lugar – e passando por dentro da Igreja de Santa Felicita. Em homenagem ao seu criador, a obra ficou conhecida como Corredor Vasariano.

Hoje o Corredor Vasariano – cuja estrutura seria incapaz de suportar visitas diárias de milhares de pessoas, comuns nos museus e igrejas florentinas – fica a maior parte do tempo fechado, às vezes durante anos, muito raramente abrindo por curtos períodos para visitações agendadas.

Visual de Florença desde o Piazzale Michelangelo - 31 de dezembro de 2011
Visual de Florença desde o Piazzale Michelangelo – 31 de dezembro de 2011

Nascido à beira do Mediterrâneo, na província de Nápoles, morei em Florença dos 10 – quando meus pais se mudaram para a capital da Toscana – aos 23 anos – quando deixei meu país natal – e, nesse período, lembro que somente uma vez, no começo da década de 1990, tive a sorte de participar de uma visita agendada ao corredor, conduzida por um guia contratado pela Prefeitura da cidade. Só voltaria a percorrer a obra de Vasari muito tempo depois, em janeiro de 2012 durante uma visita à minha família, depois de doze anos vivendo fora da Itália (dez dos quais no Brasil), o que me permitiria enxergá-la, assim como Florença inteira, com outro olhar.

Paisagem característica da região italiana da Toscana
Paisagem característica da região italiana da Toscana

De fato, nos meus treze anos florentinos nunca me tinha me sentido arrebatadoramente atraído, como muitos viajantes, pelo patrimônio artístico (alguns sustentam que só Florença concentraria cerca de quarenta por cento de toda a arquitetura, além de boa parte da pintura, a escultura e outras artes produzidas ao longo da ainda inacabada viagem de nossa espécie pelo planeta), as paisagens, as tradições (exceto as gastronômicas) e a história do lugar, as mesmas que sugam como um redemoinho milhões de pessoas dos cinco continentes para a pequena cidade que, em certas épocas do ano, chega a duplicar seu número de habitantes.

[Faz-se necessário, aqui, abrir um parêntese: a grande maioria dessas pessoas – turistas, muito raramente viajantes – pouco ou nada conhece da historia, a cultura e a arte florentinas a não ser o que lê nos guias de bolso ou lhe contam os guias incluídos nos pacotes comprados em hotéis ou em agências. Menos ainda tem real interesse nessa cultura e essa história. Porém, faz questão de aparecer em centenas de fotos de monumentos ou esculturas dos quais nem lembrará os nomes, para dizer que conheceu o “berço da Renascença” ou “uma das capitais mundiais da arte”. Muitos deles apenas ouviram falar em Michelangelo, Leonardo da Vinci e Botticelli. Descobrem a existência de “um tal” Filippo Brunelleschi quando lhes explicam quem foi que construiu a cúpula da catedral de Santa Maria del Fiore, que passou para a história pela sua proporção e pelo fato de ainda hoje ninguém entender como consegue se sustentar apenas pelo jogo de encaixes de seus tijolos… a mesma cúpula diante da qual – segundo Vasari – Michelangelo teria exclamado, ao contemplá-la pela última vez antes de se mudar para Roma, onde tinha sido chamado para projetar o Vaticano: “Vou a Roma fazer a tua irmã, maior, sim, mas não mais bela”.

Esses turistas – norte e sul-americanos, britânicos, australianos, japoneses, russos, alemães, suecos, holandeses, franceses, etc. – escutam pela primeira vez os nomes de Giotto, de Cimabue, de Ghiberti, de Andrea Pisano quando lhes contam sobre o campanário da catedral, o Batistério de São João, os afrescos que ornam suas paredes e as obras-mestres entalhadas em suas portas. Anotam – para evitar esquecê-los ao colocar legendas em seus álbuns no Facebook – os nomes de Benvenuto Cellini e de Giambologna, em cujas vidas e obras não estão minimamente interessados, quando se deparam com o Perseu e o Rapto das Sabinas – cuja existência antes ignoravam – na Loggia dei Lanzi[2]. Ouvem falar em Leon Battista Alberti só quando durante uma excursão guiada esbarram na fachada da igreja de Santa Maria Novella, que não sabiam sequer que existia, e tomam conhecimento de que os Medici governaram Florença quando os guias lhes contam a história do Palazzo Vecchio, o Palazzo Pitti e o Giardino di Boboli[3]].

Loggia dei Lanzi, Piazza della Signoria, Florença - Primeiro de janeiro de 2012
Loggia dei Lanzi, Piazza della Signoria, Florença – Primeiro de janeiro de 2012
Giardino di Boboli, Florença
Giardino di Boboli, Florença
O Rapto das Sabinas - Escultura de Giambologna na Loggia dei Lanzi, Florença
O Rapto das Sabinas – Escultura de Giambologna na Loggia dei Lanzi, Florença
Perseu e a Cabeça de Medusa, escultora em bronze de Benvenuto Cellini na Loggia dei Lanzi, Florença
Perseu e a Cabeça de Medusa, escultora em bronze de Benvenuto Cellini na Loggia dei Lanzi, Florença

Talvez por aquela estranha tendência humana – bem: minha, pelo menos – a sentir atração por aquilo que não faz parte dos nossos roteiros existenciais cotidianos, ou talvez por ter vivido tantos anos em uma cidade não apenas densa de arte e de história, mas na qual quase em cada esquina – até em quartos de hotéis, bares, restaurantes e lojas – despontam resquícios de outras épocas – restos de um afresco, de um mosaico, etc. – até o ponto que o que desnorteia sensibilidades alheias se torna banal, ordinário para você, talvez por tudo isso enquanto morei lá não vivenciei o assombro, o êxtase, o atordoamento stendhaliano[4] que sacodem alguns visitantes – cada vez maios raros, infelizmente, pérolas inusitadas na multidão barulhenta de turistas – diante da beleza da terra natal de Dante.

Quando conto que quase todos os dias, durante os cinco anos em que freqüentei o ensino médio, para ir para a escola percorria de ônibus um trajeto que passava ao lado do jardim de propriedade de Lourenço O Magnífico onde Maquiavel escreveu O Príncipe; passava por trás da igreja de Santa Maria Novella, cuja fachada é considerada uma das maiores obras da arquitetura renascentista; passava ao lado do complexo composto pelo Duomo (catedral), o Batistério e o Campanário de Giotto, um dos mais conhecidos e belos do planeta; passava em frente ao Palazzo Medici Riccardi, em cuja concepção interveio Michelangelo; parava na praça onde começa a Galeria da Academia de Belas Artes, que abriga o Davi; e passava vizinho do Spedale degli Innocenti de Brunelleschi meus interlocutores costumam ficar deslumbrados, achar incrível, enquanto eu – não sei se pela idade, afinal era só um adolescente, ou simplesmente por estar acostumado àquilo tudo e, assim, perceber como absolutamente normal viver naquele ambiente – nunca me emocionei ao ir para o colégio, nem sequer pensava que estava passando diariamente por aquelas belezas e muitas vezes nem olhava para fora da janela (que, por sinal, nem sempre era fácil, já que amiúde ficava espremido como uma sardinha entre outros passageiros).

Piazza del Duomo, Florença, Final de Dezembro de 2011
Piazza del Duomo, Florença, Final de Dezembro de 2011
Igreja de Santa Maria Novella, Florença
Igreja de Santa Maria Novella, Florença
Spedale degli Innocenti, Florença
Spedale degli Innocenti, Florença

Da mesma forma, não lembro ter sentido nunca qualquer forma de arrebatamento ao passear nos finais de semana pelo Ponte Vecchio (ponte medieval em arco construída no século XIV, considerada a mais bela do planeta); entrar na Basílica de Santa Croce onde estão enterrados, entre outros, personagens como Michelangelo, Galileu Galilei, Nicolau Maquiavel e Gioacchino Rossini; tomar sorvete ao lado da igrejinha do século XI onde Dante conheceu Beatrice (e onde esta última está enterrada); ou ainda por ter tido durante tantos anos o privilégio de contemplar desde a varanda da casa dos meus pais, onde morava na periferia Sul da cidade, a cúpula de Brunelleschi e as colinas de Fiesole, onde Leonardo fez os primeiros experimentos de vôo humano da história.

Basílica de Santa Croce, Florença
Basílica de Santa Croce, Florença

Minha relação com a Itália, aliás, durante praticamente todo o longo período de minha vida que passei lá assemelhou-se à descrita em uma canção do músico, humorista e intelectual Giorgio Gaber – uma das mentes mais originais e efervescentes do país na segunda metade de século passado – e sintetizada pelo verso-refrão: Io non mi sento italiano, ma per fortuna o purtroppo lo sono (Eu não me sinto italiano, mas por sorte ou infelizmente o sou).

O músico e intelectual italiano Giorgio Gaber
O músico e intelectual italiano Giorgio Gaber

Em parte, talvez, por um impulso irrefreável que sempre me dominou empurrando-me a quebrar toda e qualquer fronteira mental e não sentir-me amarrado a nenhuma certeza pré-constituída, o que dificultou meu enraizamento em qualquer lugar e cultura – pelo menos o enraizamento consciente, pois é claro que inconscientemente meu modo de ser, de ver o mundo e de viver estão incrustados de múltiplas influências do meio onde me criei, assim como dos por onde vivi – e, ao mesmo tempo, estimulou a construção de uma identidade aberta, que se reconhece como híbrida e inacabada, e despertou em mim um anseio permanente por ir além, por conhecer outras paisagens humanas e não-humanas, por interagir com outras possibilidades de ser.

Em parte, também (e essa é sem dúvida uma herança do meu meio familiar), pelo espírito crítico e reflexivo que cultivo desde muito cedo e que me fazia enxergar o mesmo país que, de fora, muitos concebem apenas como uma usina de gênios e artistas, como uma terra dividida (por ser napolitano, vivenciei na pele durante os primeiros anos da minha vida florentina, nos mais diversos ambientes, discriminação e bullying), unificada há apenas um século e meio e sem um espírito de nação (falar em “italianos” é, para a maioria dos habitantes da península, uma abstração, pois se sentem muito mais venetos, napolitanos, lombardos, toscanos, sicilianos, etc.); de racismo violento institucionalizado (é o único país ocidental em que um partido político abertamente xenófobo e que pregava a secessão do Norte da península por “superioridade da raça” com relação aos italianos do Sul participou durante quase quinze anos de uma coalizão de governo), até o ponto de prefeitos de cidades governadas por forças xenófobas retirarem os bancos das praças públicas para evitar que os imigrantes os “sujassem” se sentando neles e que, já na década de 2000, estreou na Europa a deportação dos roma (uma etnia cigana); de corrupção generalizada (o maior esquema de corrupção política e empresarial do mundo ocidental, que durou mais de uma década, foi desvendado e desmantelado exatamente na Itália no início da década de 1990); de política dominada pelo clientelismo; de um poderoso e ramificado crime organizado (não é por acaso que as máfias nasceram lá); de décadas de terrorismo de direita, de esquerda e de Estado (com direito a chacinas promovidas pelos serviços de inteligência para criar um clima social de medo e insegurança que justificasse medidas repressivas violentas dos movimentos sociais; bombas em estações de trens, como a que em 1980 assassinou 85 pessoas em Bolonha num atentado de um grupo neofascista; etc.); de fascismo – um produto local, aliás, que teve muito sucesso pelo mundo afora – cada vez mais em auge…

Silvio Berlusconi, empresário amigo da máfia, corruptor e pedófilo que governou a Itália quase 20 anos com uma mistura de populismo midiático e desrespeito à democracia
Silvio Berlusconi, empresário amigo da máfia, corruptor e pedófilo que governou a Itália quase 20 anos com uma mistura de populismo midiático e desrespeito à democracia
Atentado mafioso que assassinou o magistrado Luigi Falcone em Capaci, Sicília, em 1992
Atentado mafioso que assassinou o magistrado Luigi Falcone em Capaci, Sicília, em 1992
Imagem do massacre da Estação de Bolonha em 1980, fruto de um atentado de um grupo terrorista de extrema direita
Imagem do massacre da Estação de Bolonha em 1980, fruto de um atentado de um grupo terrorista de extrema direita

…Uma terra em que um empresário amigo da máfia, que na década de 1980 se tornou proprietário monopolista de todos os canais de televisão privados do país graças à troca de favores com alguns dos maiores corruptos da história européia, pôde se candidatar a Primeiro Ministro se apresentando como o “ungido pelo Senhor” para salvar a pátria do comunismo, ganhar com folga vários pleitos eleitorais, formar coalizões de governo com partidos xenófobos e com os descendentes do antigo partido fascista, pintar e bordar durante quase vinte anos – com raros e curtíssimos intervalos – se elegendo três vezes, governando com uma mistura de populismo midiático e desrespeito pelas regras democráticas e a Constituição, levando o país à beira da falência e promulgando leis ad personam para ele e alguns amigos (ligados à máfia, geralmente) se safarem de processos judiciais (medidas como, por exemplo, a descriminalização da contabilidade falsa), aprovadas por um Parlamento comprado com dinheiro público (como as múltiplas orgias com prostitutas, maiores ou menores de idade, que promoveu ao longo de seus mandatos, com convidados ilustres como o ex-Premiê tcheco Mirek Topolanek, o presidente-ditador russo Vladimir Putin e o ex-ditador líbio recentemente deposto e assassinado, Muammar Gaddafi)…

…Enfim, uma cuja história passada e recente e cuja realidade cotidiana pouco condizem com o estereótipo de alegres, barulhentos e descontraídos comedores de pizza e de apaixonados cantores de serenatas.

Alguns me consideram um desajustado – embora eu prefira dizer, invertendo o conceito clássico de Antonio Gramsci[5], um “intelectual desorgânico” – porque não consigo me inserir de forma acrítica, sem questionamentos e certa dose de rebeldia, em nenhum tipo de coletivo, seja micro (uma comunidade, uma empresa, uma associação, um movimento social…) ou macro (uma sociedade, um país), o que faz com que me perceba e acabe sempre sendo percebido como um outsider, um estranho (mesmo quando bem vindo e quando adiro voluntariamente às aspirações e objetivos, aos valores e ao dia a dia daquela coletividade). É assim no Brasil, país que amo, em que vivo há dez anos e onde pretendo fincar minhas raízes (se é que algum dia conseguir ter alguma), mas de cuja sociedade e de cujo modelo de desenvolvimento sou um duro crítico; e não é, nem poderia ser diferente com relação ao meu país natal. Essa tendência da minha personalidade, aliada à de não me amarrar a identidades rígidas e ao meu anseio permanente de fuga, de descoberta de novas realidades, e talvez à experiência cotidiana daquilo que para muitos é algo excepcional, contribuiu para que não me sentisse especialmente apegado ao meu país de origem, à sua história e à sua cultura.

Para que pudesse sentir atração, me emocionar e vivenciar o deslumbramento que experienciam certos visitantes da Itália, especialmente em Florença, tive que voltar ao meu país e à cidade onde vivi tanto tempo com o espírito de um viajante, depois de anos morando em outros países e continentes.

O que mais conseguiu me emocionar nessas voltas à casa que já não era minha casa – diversas pessoas que não me conheciam antes e que encontrei em minhas visitas à Itália desde que não vivo mais lá, ao conversar comigo pela primeira vez, acreditaram que fosse latino-americano – foi uma obra à qual, como falei, tinha tido acesso apenas uma vez nos longos anos em que vivi em Florença: o corredor aéreo projetado e feito construir por Giorgio Vasari em 1565 para permitir que o Grão-Duque Cosme I De’ Medici e seus familiares pudessem se deslocar sem serem vistos e com segurança do Palazzo Vecchio ao Palazzo Pitti.

Palazzo Pitti, Florença
Palazzo Pitti, Florença

Mas como já me estendi muito, vou continuar a contar esta história no post do mês que vem…

Continua em O Vagamundo de fevereiro de 2013.

Veja os posts antigos de O Vagamundo:

Aqui, agora… sempre – 31 de dezembro de 2012

Encontros – 18 de dezembro de 2012

Insignificância e poder: o homem diante do sublime – 13 de novembro de 2012

No coração do lago, entre selvas e vulcões – 11 de setembro de 2012

Certa história de amor ou como viajar alimenta a criação – 14 de agosto de 2012

Os últimos confins da Terra – 10 de julho de 2012

Um plácido fim de tarde ao som das ondas – 12 de junho de 2012

No fim da viagem está o horizonte – 8 de maio de 2012

Caminhante, são tuas pegadas o caminho, e nada mais – 10 de abril de 2012



[1] O reinado dos Medici em Florença, desde a toma do poder por Cosme o Velho em 1434 que acabou com a República Florentina que existia desde 1115, foi interrompido duas vezes. A primeira entre 1494 e 1498, período marcado pela fugaz e cruenta experiência teocrática do frade radical Girolamo Savonarola. João De’ Medici, o futuro Papa Leão X, recolocou a cidade nas mãos de sua dinastia em 1512. Rejeitada pela segunda vez em 1527, a família reassumiu o poder – esperava-se que definitivamente, sem saber que para sempre, sempre acaba – em 1531.

[2] A Loggia dei Lanzi é um galpão medieval situado ao lado do Palazzo Vecchio, na Piazza della Signoria, que durante séculos foi utilizado por feirantes e hoje abriga algumas das mais importantes esculturas da Renascença, constituindo-se como um museu a céu aberto.

[3] O Giardino de Boboli, ao qual se acessa desde o Palazzo Pitti (antiga residência dos Medici, obra do arquiteto Filippo Brunelleschi), foi um dos primeiros “jardins à italiana” e serviu de inspiração para quase todas as cortes européias, inclusive para Versalhes.

[4] O escritor francês Stendhal conta em uma de suas obras que, ao visitar Florença em 1817, foi invadido por palpitações, vertigens, falta de ar e até alucinações pelo excesso de exposição à beleza da capital da Toscana. Por isso, cada vez que um viajante apresenta sintomas psicossomáticos da mesma natureza diante de visões sublimes, fala-se em Síndrome de Stendhal.

[5] Para o pensador e militante político Antonio Gramsci (1891-1937), um dos fundadores do Partido Comunista Italiano, cada grupo social que desempenha algum papel no processo produtivo engendra seus intelectuais, considerados “orgânicos” a esse grupo, isto é, porta-vozes e simultaneamente moldadores de sua visão de mundo e seus valores.


Comentários