Dizem que viajando junto é a maneira mais fácil de descobrir se você ama ou odeia alguém. Pode ser um pouco de exagero, mas é verdade que, assim como em qualquer relacionamento, viajar junto de outra pessoa requer muita paciência e é preciso ter uma certa “química” entre os viajantes, digamos assim. Mas e quando o companheiro de viagem é namorado (a), noivo (a) ou marido/mulher? E quando a viagem dura 219 dias e você passa 24 horas ao lado daquela pessoa? Foi exatamente assim comigo e com Fred em nossa Volta ao Mundo.

Bem, eu e Fred estamos juntos há 11 anos, entre namoro, noivado e casamento. De casados, temos 4 anos. Mas antes da Volta ao Mundo, apesar de sempre ficar muito tempo juntos, cada um tinha a sua vida também, seu trabalho, outras atividades, amigos de outros círculos. Enfim, não ficávamos grudados 24 horas por dia, como na viagem.

Na Volta ao Mundo, era eu e ele, ele e eu e, em alguns momentos, amigos que fazíamos na estrada. Uma convivência tão intensa como essa poderia desgastar qualquer relacionamento ou torná-lo ainda mais forte. Por sorte, ficamos com a segunda alternativa. Mas tenho que admitir, não foram 219 dias de lua de mel não.

Nós dois temos ritmos diferentes. Quando se trata de viajar, minha energia não se esgota. Mesmo quando estive muito doente, durante 10 dias, não quis ficar nenhum só dia de bobeira no hotel. E, por mim, a maratona começava de manhã cedo e só acabava na hora de dormir. Fred tem o ritmo mais lento de viagem (acho que normal) e muitas vezes, reclamava do cansaço e queria parar para descansar. “Estou de saco cheio”, me disse ele muitas vezes, que eu fingia não escutar.

Alguém tinha que ceder e admito que, muitas vezes, cedeu ele. Mas também tive minhas vezes de diminuir o ritmo.

Também nossos interesses muitas vezes não batiam, eu gosto muito de viajar por lugares mais simples, ter contato com as pessoas, natureza. Ele já preferia um pouco mais de conforto e cidades mais desenvolvidas. Por ele, não teríamos ido para o Sudeste Asiático. Mas depois, acabou mudando de ideia e agora quer morar em uma ilha na Tailândia. 🙂

Tem dias que a gente não acorda de bom humor e aí só sobra para quem está ali do nosso lado.

Fred também é viciado em trabalho e, às vezes, queria simplesmente parar e programar, mesmo que não houvesse “trabalho” algum. Muitas vezes eu ia dormir e ele ficava lá, até tarde matando a vontade. E ainda tinha os dias que eu tinha que fechar as matérias do Dois no Mundo para o jornal de última hora e aí era um estresse só.

Mas, para mim, é justamente nos momentos mais difíceis que um relacionamento se fortalece e passar por situações delicadas e aprender a lidar com essas diferenças, só nos deixou mais unidos. Tiveram muitos momentos na viagem que nem posso imaginar o que teria acontecido se ele não estivesse ali. Na verdade, eu acho que nunca teria arredado o pé de casa se ele não fosse comigo, mesmo que fosse solteira.

No dia que ele pediu para morrer, pois estava fisicamente esgotado e tinha uma montanha inteira para subir, eu estava lá para pedir para ele parar com aquele pedido bobo e continuar a escalada. Nos dias que eu pensei que iriaa morrer com uma intoxicação alimentar, ele estava ao meu lado, brigando para eu comer e tomar os remédios.

E foi assim, tentando manter o equilíbrio, como em uma corda bamba, que chegamos aos 219 dias de viagem. Na maior parte do tempo, tivemos dias lindos, de experiências incríveis, que ganharam mais sentido por estarmos ali juntos.

De volta para casa é muito bom ter alguém que sabe e entende o que você viveu. Talvez, me sentiria muito só se não tivesse com quem compartilhar tudo isso. Ele me entende e eu entendo ele.

 

 


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