Durante o nosso Verão na Europa, entre junho e julho deste ano, revisitamos Berlim. Chegamos à capital da Alemanha no dia do aniversário da nossa amiga, Juli, que havia nos convidado para participar da sua festa.

Ela foi nos buscar na rodoviária, onde chegamos de Praga. Com sua alegria contagiante, por debaixo do casaco estava com serpentinas enroladas no pescoço e na mão carregava um balão em formato de centopeia (ironicamente sem pés), presentes da comemoração no seu trabalho. No caminho para casa de Juli, paramos nos Correios para enviarmos uns postais e ela, uma encomenda, e lá mesmo, viramos a nossa primeira dose de uma bebida que até hoje não sei o que era.

Mesa para o aniversário de Juli
Mesa para o aniversário de Juli

Bebemos e não fomos colocados para fora. É engraçado como na Alemanha, as coisas são muito menos rígidas do que a gente imagina.

Perguntei a Juli quais eram os planos para o aniversário e como estavam os preparativos para festa. “Ainda vamos passar no mercado e preparar tudo”, ela respondeu. Isso era umas 15h e a festa deveria começar umas 19h.

Deixamos as nossas malas na casa dela e saímos direto para o supermercado. Compramos comida e bebida. No cardápio da festa muita salada, salsichas, picles, queijos, pães, geléias, nutella, frutas e salgadinhos do tipo batata chips. Para beber, cerveja, vinho e o que mais as pessoas levassem, pois Juli tinha avisado que a festa seria um piquenique, em que cada um poderia levar o que quisesse também.

Voltamos para a casa de Juli, ajudamos a preparar as saladas, arrumar a mesa de uma forma que as pessoas poderiam se servir a vontade e para decoração tinha apenas alguns guardanapos e serpentinas. O bolo, uma amiga de Juli tinha ficado de levar. No chão, espalhamos alguns edredons para as pessoas sentarem em cima.

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Juli não tinha nenhuma preocupação em deixar a casa impecável para visitas ou em se arrumar especialmente para festa. Alguns dos convidados começaram a chegar e iam ajudando a preparar as comidas.

De repente todos estavam na sala comendo e bebendo, sem precisar de muita cerimônia. Fred, que nunca tinha feito panquecas na vida, tinha ficado encarregado disso.

A aniversariante sobrando as velas
A aniversariante sobrando as velas

Juli ia recebendo e abrindo os presentes. Me chamou a atenção que ela ganhou muitas flores, presentes feito a mão por algumas de suas amigas e lembrancinhas. Nada muito caro, mas tudo com muito carinho e significado. Todos os presentes vinham acompanhados de um cartãozinho e ela lia um a um, enquanto recebia.

Mesmo com música ambiente, a festa foi bem mais tranquila do que seria no Brasil, mas todos conversavam, bebiam, se serviam e se divertiam. Teve parabéns e bolo. Aliás, dois bolos, pois duas pessoas levaram. Os únicos registros fotográficos da festa foram feitos por mim. Ninguém parecia preocupado em fazer fotos para as redes sociais. Aliás, também achei curioso o fato das pessoas não estarem olhando o tempo todo para o Smartphone e estarem de corpo e mente presentes na festa.

Nessa mesma viagem à Europa, vimos também em um parque em Budapeste uma comemoração de chá de bebê. As amigas se reuniram, estenderam a toalha na grama, cada uma trazia uma comida e bebida para o piquenique e só os balões azuis e a grávida abrindo os presentes indicavam que aquele era um chá de bebê. Elas conversavam, sorriam e pareciam se divertir muito, sem precisar de trabalhosas decorações e brincadeiras manjadas.

A festa de Juli e este chá me fizeram pensar sobre como algumas coisas mudaram nos últimos tempos no Brasil. As festas feitas em casa, onde todos da família ajudavam a fazer alguma coisa, como encher balões e enrolar docinhos, deram lugar a mega eventos em salões de festas com orçamentos de casamento ou a grandes churrascos, no caso dos adultos.

De repente parece que os aniversários e outras comemorações como chás de panela, fraldas etc não se tratam mais de reunir pessoas queridas e celebrar, mas muito mais uma preocupação em deixar tudo perfeito para as fotos. A lembrancinha física, entregue no fim da festa, se tornou uma preocupação maior do que as lembranças que aquele evento deixará nas pessoas.

Antes que me acusem de Grinch, não tenho absolutamente nada contra comemorações, aliás, sou uma pessoa muito festeira e sempre que posso organizo festas, seja meu aniversário, de Fred ou outras comemorações.

Mas sou do tempo em que não era nada de mais presentear alguém com uma caixa de chocolate convencional, por exemplo, desde que fosse acompanhada de um carinhoso cartão. Mas hoje vejo que se a pessoa não tem dinheiro para comprar um bom presente acaba nem indo para a festa. E da mesma forma quem não pode oferecer uma mega comemoração, deixa passar em branco porque parece que ninguém mais pode fazer uma festa simples. E ainda há aqueles que se endividam para fazer grandes festas.

Claro que isso não é uma exclusividade apenas do Brasil, como Juli mesmo me disse, lá na Alemanha e em outros países da Europa, há também quem faça festas pomposas. Só que é bem menos comum do que por aqui.

Trazendo esse pensamento para outras situações da vida, como as próprias viagens, por exemplo, percebo também que muita gente escolhe destinos, atrações, a hospedagem e até o que vai comer e beber pensando nas fotos ou no “check in” do Facebook. E não vou negar que também já fizemos isso algumas vezes.

Mas nesses anos de viagens e experiências pelo mundo, posso afirmar que não foram os momentos de ostentação que mais marcaram, os momentos que ficaram na memória e tem um significado especial para a gente nada teve a ver com o quanto pagamos por eles. E alguns deles nem sequer temos fotos para lembrar ou mostrar as outras pessoas. Porque vivemos verdadeiramente aquele momento.

Escrevendo este post, lembrei de uma história que lemos em um museu na Áustria. No tempo do império, o abacaxi era símbolo de riqueza e alta posição social. A fruta originária da recém descoberta América virou objeto de decoração e tema de pinturas na Europa. E os mais ricos também iam aos eventos importantes levando um abacaxi nas mãos para indicar status social.

Onde quero chegar com essa história toda? Que o que hoje é símbolo de ostentação pode ser algo sem sentido ou até mesmo ridículo no futuro. Mas as coisas que realmente têm significados, como um cartão escrito a mão por uma pessoa querida ou estar cercado por amigos e familiares em uma data especial, essas sempre deixam boas lembranças, independente da época em que se viva.

E é por essas e outras que cada dia mais tenho buscado viver uma vida de menos ostentação e mais significados.


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