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Transilvânia: os mistérios da região do Conde Drácula

 Olá viajantes!

A cada dia este blog está ficando mais interessante e os viajantes estão compartilhando suas experiências nos lugares mais incríveis. Mas, hoje, vamos conhecer uma região famosa mundialmente como a “terra dos vampiros” e do famoso conde Drácula, a Transilvânia, na Romênia. 

O texto é do radialista Jorge Melo e vai muito além das histórias sobre Vlad Tepes, revelando as belezas de cidades dessa região histórica da Europa, como Brasov.

Bun Excursie!

Transilvânia (Romênia) por Jorge Melo

Quando escolhi passar 10 dias na Romênia, em julho de 2010, eu sabia que o processo de chegar até lá não seria fácil como se eu estivesse indo a Paris. Primeiro, claro, não existe voo Natal-Bucareste e o caminho é bem longo, de modo que são necessárias conexões com troca não só de aeronave, mas também de companhias aéreas. Então o melhor é recorrer a um agente de viagens para encontrar as melhores manobras aéreas para chegar à capital romena. Segundo, como eu precisava sair de Natal em um dia que não tinha voo TAP daqui para Lisboa, tive que pegar primeiro um voo pra Recife e, de lá, partir para a Europa. Assim, meu itinerário de ida ficou o seguinte: Natal-Recife-Lisboa-Berlim-Bucareste, saindo em um sábado às 14h e chegando no domingo às 16h, salvo os devidos fuso-horários.

Nesses casos, uma dica importante é: se você está voando com companhias Star Alliance e não tiver dado o seu número fidelidade durante o primeiro check in, lembre-se de guardar todos os cartões de embarque para requerer as milhas depois. Algumas empresas, como a TAP, por exemplo, não emitem comprovantes posteriores.

Em Bucareste, peguei o ônibus do aeroporto, que me deixou ao lado da estação de metrô mais próxima do hostel onde fiquei. Apenas dei uma volta pelo centro para comer e ver um pouco da cidade. Não conheci muito, pois estava cansado e precisava acordar cedo no dia seguinte para pegar um trem para Brasov, uma das principais cidades na região da Transilvânia, que era o meu verdadeiro interesse nesta viagem. A capital era só mais uma conexão, mas pelo que pude perceber, é uma cidade relativamente bem estruturada, com amplos espaços públicos, trens de metrô novos e ciclovias por todo o centro, que parecem estar sendo muito bem aproveitadas pelo menos pelos jovens. E a arquitetura dos prédios da era do comunismo é um interesse à parte.

Centro histórico de Brasov

A viagem de trem de Bucareste para Brasov dura 3 horas e meia e é incrível para perceber a mudança geográfica brusca quando você sai da região da Valáquia. Somente pelo que se vê pela janela dá pra notar que estamos entrando na Transilvânia.

Rua do hostel

Em Brasov fiquei hospedado no JugendStube, um hostel no pequeno e charmoso centro histórico. A localização é perfeita e fica em um prédio bem antigo (como tudo no centro histórico), onde eu tinha sempre que ter cuidado pra não bater a cabeça na soleira das portas pequenininhas. Pelo que me consta, é o albergue mais recente no centro, então os móveis são todos novos. A decoração é de bom gosto e o banheiro tem cartazes espirituosos (do aviso pra não fazer xixi no chão ao aviso de webcam escondida, e aí tem umas fotos fakes de pessoas fazendo coisas no banheiro etc).

No primeiro dia à tarde, saí pra dar uma volta sozinho pelos arredores do centro histórico, comer shaorma (uma espécie de releitura alemã do kebab, muito popular na Transilvânia) e procurar uma loja onde vendessem dvds e cds romenos. Acabei encontrando a ótima livraria Carturesti, linda, bem organizada e variada, num prédio medieval. Saí de lá perto das 20h (ainda dia) para encontrar uma amiga romena em frente ao restaurante chinês da piata Sfatului, a praça do outro lado da livraria, e que fica a uns cinco minutinhos a pé do hostel. Voltamos à Carturesti para que ela me desse algumas referências e recomendações de filmes e músicas e acabei comprando um pack de dvds com uma coletânea de curta metragens romenos e um cd da banda moldava Zdobi Si Zdub.

Depois demos uma volta e passamos novamente pela piata Sfatului, onde fica o antigo prédio da prefeitura que agora é o museu de história de Brasov. Subimos em direção à saída do centro antigo, para além dos muros erguidos pela antiga comunidade alemã que colonizou o local, enquanto ela me contava em linhas gerais a história da Romênia. Passamos por uma escola de esportes e passeamos na Tampa Hill, a colina que tem um letreiro escrito BRASOV ao estilo do letreiro das colinas de Hollywood. Dá inclusive pra ir até lá em cima caminhando ou em uns bondinhos descrito pela minha amiga como “emocionantes” (no sentido de que ainda são os mesmos bondinhos do tempo da ditadura).

Jorge (centro) com amigos romenos no bar

Quando quisemos beber algo, ela se lembrou de um novo bar que abrira há poucos dias e que ela ainda não tinha conhecido. Caminhamos até lá, um lugar bem agradável com mesas ao ar livre, amplo, música de balada tocando e iluminação intimista. Parecia bem badalado, com um pessoal descolado bebendo e dançando. Uma pena que eu não lembre o nome do local para deixar a dica completa aqui, mas, se for a Brasov, lembre-se que esse bar fica por trás da biblioteca municipal na saída do centro histórico. Por fim, acompanhei-a até o carro e no caminho ela me mostrou a rua mais estreita da Europa.

Rua mais estreita da Europa

No segundo dia acordei bem tarde, mas não tem problema porque os dias de verão são muito longos (o sol se punha quase às 22h) e a maioria das lojas no centro histórico fica aberta até às 21h, sem contar os bares e restaurantes, que continuam noite adentro. Visitei o Muzeul de Istorie (a história de Brasov é muito interessante, com todos os lances medievais e de cavalarias que não aparecem na história do Brasil) e depois minha amiga me buscou de carro, em frente à biblioteca municipal, para passarmos uma tarde em Viscri.

Igreja Fortificada de Viscri

Viscri é uma minúscula vila alemã a uns 90km de Brasov, tombada como patrimônio mundial pela UNESCO. É simpática, mas quase morta. O negócio é que boa parte dos alemães que vivia lá já morreu ou voltou pra Alemanha durante a ditadura de Ceausescu. A grande atração é a igreja fortificada construída pelos saxões de maneira que pudesse abrigar a população em caso de ataques estrangeiros.

Viscri
Prato típico romeno

No caminho de volta para Brasov, paramos para almoçar em um restaurante na beira de um rio (mas na beira do rio mesmo; a mesa em que sentamos ficava flutuando), e minha amiga falou que eu TINHA que comer esse prato típico da Romênia, tipo uma polenta, feito de milho etc, que era muito bom e eu tinha que experimentar já! Fiquei bem animado de provar essa coisa tão nova pra mim… Mas quando o prato chegou acompanhando meu peixe, nada mais era do que o nosso cuscuz.

Restaurante na beira do rio

No dia seguinte fui ao lacul Sfanta Ana, um lago vulcânico de 40 mil anos na área de um condado habitado por húngaros, a quase 200km de Brasov. Os húngaros estão em toda parte na Transilvânia, mas existem especificamente dois condados que são territórios majoritariamente seus, e um deles é Sfantu Gheorghe, perto de onde fica o lago. A situação dos húngaros na região é meio complicada por dois fatores: primeiro que muitos deles não se abrem à integração com a cultura romena e pregam a sua independência no meio de outro país; segundo que os romenos os veem com certo preconceito, assim como veem os ciganos.

Lago Sfanta Ana

Para chegar ao lago, sobe-se uma serra e depois tem que descer até a beira. Dá pra deixar o carro lá em cima, onde tem um restaurante com estacionamento, ou dá pra descer com o carro até mais perto do lago. O restaurante cobra 10 lei de estacionamento mesmo se o carro ficar do lado de fora – ou seja, um lugar público – e cobra 20 lei pra deixar o carro descer, sendo que pela discussão que eu ouvi no bar (traduzida pela minha amiga), o estabelecimento nem é regulamentado. A discussão era entre uma atendente do bar e um cliente que perguntava por que tinha que pagar 3 lei pra usar o banheiro, mesmo consumindo lá. A atendente respondeu que cobram porque a água que usam tem que ser levada pela administração lá pra cima da serra, e o rapaz e minha amiga explicaram que se eles não têm água corrente é porque não têm autorização para funcionar.

Deixamos o carro no estacionamento pelos 10 lei e descemos o resto do caminho a pé.
Depois do banho, demos a volta pelo lago todo caminhando e voltamos pra almoçar no bar. Finalmente comi os mici, uns bolos de carne em formato de linguiça feitos no grill e servidos com mostarda e pão; comida gordurosa de rua muito popular principalmente naquela época do ano. De sobremesa, comi uma especialidade húngara que não lembro o nome, mas são uns espirais de uma massa muito fina tipo pão, grelhados com um doce muito gostoso. O que eu comi tinha nozes por cima, mas também tem com coco, com baunilha etc.

No quarto dia em Brasov fui ao famoso castelo de Bran com um americano que estava no mesmo quarto que eu no hostel.

Castelo de Bran

Bran é uma cidadezinha pertinho de Brasov, turisticamente referenciada como a cidade onde está o castelo do Drácula. Mas não, o castelo de Bran não pertenceu a Vlad Tepes, o conde que inspirou o vampiro da ficção, nem ele nunca morou lá ou em qualquer lugar em Bran. E apesar de algumas fontes assegurarem que ele uma vez passou uma noite naquele castelo, nem isso está comprovado. O que acontece é que o castelo onde teria realmente morado Vlad Tepes, hoje em dia é apenas ruína, o que não seria tão interessante economicamente. Então escolheu-se o castelo de Bran como símbolo dessa lenda, talvez por ser o mais acessível para os turistas.

Jorge no Castelo de Bran

O castelo é uma construção do século XIV, erguido como parte de um forte para proteger a cidadela de Bran, principalmente das constantes investidas otomanas. Ao longo dos séculos foram sendo feitos “puxadinhos” de castelo, de modo que sua arquitetura tem influências de diversas épocas. A exposição do museu no castelo está dividida em quatro eixos, mas com exceção da última parte (sobre o personagem vampiro), os outros eixos são todos expostos conjuntamente ao longo dos três primeiros andares do castelo. São eles: 1) a história da cidade de Bran e da própria construção e subsequentes reconstruções e fortalecimento do castelo; 2) a história da família da rainha Maria da Romênia, cuja família ocupou o castelo do início do século XX até após a segunda guerra (e os cômodos do museu estão indicados de acordo com a ocupação que a família da rainha fazia deles); e 3) uma cobertura arqueológica desses dois primeiros eixos, com objetos que não necessariamente pertenciam ao castelo, mas ilustram as épocas mencionadas, e objetos pessoais da ilustre família. Abundam retratos da rainha Maria e da princesa Ileana… E há até algumas peças de arte feitas pela própria princesa, que era uma artista com, eu diria, certa obsessão por esculturas de cabeças humanas.

O quinto dia foi meu último em Brasov, e aproveitei para visitar a Black Church, uma igreja gótica perto da piata Sfatului. Geralmente não vejo graça em visitar igrejas, mas tinha calculado passar no máximo meia hora lá dentro e acabei ficando 45 minutos. Quando saí da igreja, minha amiga estava me esperando do lado de fora. Fomos almoçar ali perto num restaurante de comida regional chamado Sergipana. A ambientação medieval, o fato de ser situado em um porão, os garçons caracterizados e a música folclórica tornam o ambiente meio brega, mas acho que se você é turista em Brasov talvez tenha que ter a experiência completa. E a comida tradicional é ótima!

Black Church
Piata Sfatului

Dali caminhamos até o forte, que fica numa colina fora do centro histórico. Achei que haveria um museu lá, mas para minha surpresa o local está meio abandonado enquanto ponto turístico: de dia é tudo fechado, nem mesmo um café que havia antigamente lá funciona mais. No entanto, à noite funciona uma boate que parece ser bem frequentada.
À noite, fomos de carro até Poiana Brasov, um “bairro” em cima da montanha, cheio de condomínios e resorts luxuosos, e onde funciona uma estação de ski durante o inverno. Na volta, deixamos o carro na casa da minha amiga e pegamos um taxi para o meu hostel, onde eu tomei banho e me arrumei para sairmos pra beber, pois era minha última noite na cidade. No saguão, encontramos o americano que fora comigo ao castelo de Bran, e ele se juntou a nós em busca de um bar que servisse absinto.

Poiana Brasov

 

Forte

Na manhã seguinte, despedi-me de Brasov e peguei um trem para Sighisoara, onde eu planejei passar uma noite antes de seguir para Sibiu e, por fim, voltar para uma última noite em Bucareste. Mas aí é outra viagem…

Bacana né? Linda a região da Transilvânia e riquíssima em história. E você? O que achou? Dê sua opinião, deixe aqui seu comentário!

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