A cachoeira Santa Bárbara (foto em destaque) é considerada, por muitos, a mais bonita da Chapada dos Veadeiros. A Cachoeira fica dentro do chamado Sítio Histórico do Patrimônio Cultural Kalunga, a 27 km do município de Cavalcante. O melhor jeito de conhecê-la é na companhia de um guia kalunga, povo descendente de quilombolas, que vive na região há quase 200 anos. O passeio de um dia inclui também Cachoeira Capivara.
Como chegar
De carro de Alto Paraíso, onde estávamos hospedados, até Cavalcante são 109km. Até Teresina de Goiás, a estrada está em perfeita conservação. Os 22km de Teresina a Cavalcante são de asfalto, mas estava muito esburacado (abril de 2016).
De Cavalcante até o Engenho II são mais 27km de estrada de terra.
Para quem não está de carro alugado é preciso fechar passeio com agências ou guias em Alto Paraíso ou Cavalcante.
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Guia Kalunga
Como disse na abertura deste post, a melhor forma de conhecer a Cachoeira Santa Bárbara é na companhia de um guia Kalunga para poder conhecer mais sobre essa comunidade que detém o sítio histórico.
Para contratar um guia Kalunga, fomos até o Centro de Atendimento ao Turista (CAT) de Cavalcante. Lá os guias fazem um revezamento para que todos trabalhem. A diária do guia sai por R$ 80 para dividir com até 6 pessoas, com saída a partir de Cavalcante ou R$ 70, com saída a partir do Engenho II.
O funcionário do CAT nos indicou a guia Catarina, que estava na vez. Mãe de 7 filhos, Catarina trabalhou a vida toda (40 e poucos anos) na lavoura e em casa, mas há pouco mais de um ano foi capacitada para ser guia.
No caminho entre Cavalcante até o Engenho II, Catarina nos dava as explicações e respondia às nossas perguntas. Ela nos contou que no Engenho II hoje vivem cerca de 900 kalungas e a maioria vive da agricultura e nos últimos anos do turismo.
Também explicou que só em Cavalcante são 170 cachoeiras, boa parte delas dentro do Sítio Histórico Kalunga. Perguntei se ela visitava muito essas cachoeiras quando era criança e ela me respondeu o seguinte: “só vim conhecer essas cachoeiras depois de adulta. Quando era criança tinha que trabalhar muito. Desde que me lembro de alguma coisa, estava trabalhando. Antes, criança era igual adulto, tinha que trabalhar, só hoje que criança não trabalha, só dá trabalho”, conta sorrindo.
Os 27km de estrada de terra, que fizemos de carro, ela conta que fez muitas vezes caminhando, quando tinha que ir até Cavalcante para vender o que plantava e comprar o que não produziam no Engenho.
Na entrada do Engenho II, ela nos mostrou a casinha que construiu há pouco tempo. “Quando meus filhos ficaram maiores e precisaram estudar, a gente se mudou para cidade (Cavalcante), mas sempre tive minha casinha aqui (Engenho II), onde planto também”, nos explicou, acrescentando que como guia, só consegue, normalmente, um grupo por semana.
A oportunidade de estudar que deu aos filhos, ela só teve também quando se mudou para a cidade. Estudou por alguns anos e fez o equivalente até a 4a série. “Eu queria estudar, mas sempre acontecia alguma coisa, um filho adoecia, eu engravidava, aí tive que parar”.
A medida que vamos caminhando pelo Engenho II, Catarina vai dando a benção aos mais jovens e pedindo aos mais velhos. No Engenho, praticamente todos são família.
Ela nos mostra um grafite com a imagem de uma senhora kalunga, que seria uma das mais velhas da comunidade. Fizemos uma foto juntos em frente. O sorriso que mantém sempre no rosto, esconde na hora da foto.
Antes de começarmos a trilha, ela nos leva também ao restaurante local, onde reservamos o almoço para o pós-trilha e que será preparado enquanto visitamos as cachoeiras.
Os kalungas são bem tímidos e além de Catarina e das funcionárias do restaurante, não tivemos oportunidade de conversar com outros moradores da comunidade.
Cachoeira Santa Bárbara
Na entrada do Engenho II é preciso pagar uma taxa de R$ 20 por pessoa. A contratação de guia é obrigatória e para quem não fez em Cavalcante, pode contratar no CAT do Engenho.
Do Engenho até a Santa Bárbara são 12km ida e volta. Percorremos uma parte em nosso carro, depois cruzamos um rio caminhando e para diminuir a caminhada, também é possível pegar um pau de arara ou carro que ficam depois do rio. Custa R$ 5 o trecho e reduz bastante a caminhada. Fizemos isso e já deixamos combinado o horário da volta. Fazendo assim, a trilha fica em uns 2km.
A paisagem da trilha é muito bonita. Catarina nos disse que nessa área não é permitido plantar nem extrair nada.
Depois de uns 20 minutos caminhando, ouvimos o barulho da cachoeira e já ficamos ansiosos. Em pouco tempo, chegamos a Santa Bárbarazinha, a cachoeira que fica abaixo da Santa Bárbara, com uma queda d´água bem pequena, mas com a coloração turquesa incrível. Subimos um pouco mais até chegar a Santa Bárbara, que estava muito mais linda do que nas fotos que tinha visto.
A Santa Bárbara tem 35 metros de queda e um poço de água cristalina. O poço é fundo em algumas partes, mas dá para chegar, sem risco, até a queda d´água.
Demos uma sorte imensa, pois quando chegamos só havia duas pessoas. Mas a cachoeira costuma ficar cheia. Quando estávamos saindo, chegou um grupo de umas 10 pessoas.
Dica 1: a melhor época para ver a Santa Bárbara com a água bem azul é no período de seca, pois quando chove, a água fica mais turva e escura. Também em épocas de chuvas, a trilha fica mais escorregadia.
Dica 2: Vá em dia de semana, preferencialmente, terça-feira, pois o fluxo de visitantes diminui muito. Na segunda, o Parque Nacional está fechado e muita gente vai para lá e nos fins de semana, tem muita visita de goianos e brasilienses.
Capivara
A visita a Santa Bárbara, normalmente, é combinada com a Cachoeira Capivara. Para ir até esta outra, voltamos ao Engenho II e dirigimos um pouco mais até o ponto onde podíamos estacionar o carro. A caminhada é de uns 20 minutos. Para chegar até o primeiro poço é bem fácil, já para ir até o segundo e maior poço é preciso caminhar pelas pedras.
Apesar de não ter a coloração da Santa Bárbara, a Capivara também é muito bonita, com várias quedas e poços. A vista que se tem a partir dela também é maravilhosa.
Na volta da Cachoeira Capivara, voltamos ao restaurante e o nosso almoço já estava pronto. O preço do almoço é de R$ 25 por pessoa e é possível se servir à vontade, com opções de salada, feijão e arroz, galinha e farinha de carne seca (paçoca).
Super dica:
Na volta para Cavalcante, paramos também em um mirante com uma bela vista para a Chapada dos Veadeiros e Catarina ainda nos levou no Bar e Lanchonete da Hélia, que fica na saída de Cavalcante. Hélia cuida de um casal de araras, um tucano, papagaios e periquitos. Todos livres, sem asas cortadas e que ficam por lá só para receber o carinho e a comida que ela oferece. Alguns animais foram levados para lá machucados e se recuperaram com os cuidados dela. Ela nos recebeu toda sorridente e nos mostrou o que ensinou ao tucano (o tucano fez um cafuné com o bico na cabeça de Fred) e as araras. “Muita gente quer trazer animal para mim, mas não aceito em gaiolas, nem que tenham as asas cortadas. Gosto deles livres”, nos contou.
A parada na lanchonete é bem interessante para fazer um lanchinho antes de voltar para Alto Paraíso e também para ver esses animais bem de perto.
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