Chegamos de viagem na última sexta (22) e gostaria de começar as publicações no blog contando o quão maravilhoso foi o nosso #verãonaeuropa. Mas não posso fechar os olhos para o fato de que nestes 30 dias em que estivemos na Europa, aconteceram, somente por lá, 3 atentados terroristas: em Istambul (Turquia) Nice (França) e no trem da linha Treuchtlingen – Würzburg (Alemanha), além da tentativa de golpe militar na Turquia que também fez centenas de vítimas. Sem contar o atentado da última sexta em Munique, no dia em que chegamos da Alemanha para o Brasil e que ainda não teve as motivações esclarecidas. Em primeiro lugar, gostaria de dizer que está tudo bem com a gente e que este post não é para desestimular ninguém a viajar para Europa, mas contar a nossa experiência nesta viagem e como graças a algumas decisões que tomamos não presenciamos nenhuma dessas tragédias.

Homenagem em Berlim às vítimas dos atentados de Nice
Homenagem em Berlim às vítimas dos atentados de Nice

Quando começamos a planejar esta viagem (ainda quando estávamos na viagem pela América), a Turquia estava em primeiro lugar nesta lista. Sonhava com o país há muitos anos e esta seria a melhor oportunidade. Mas aí começou a série de atentados em Istambul e Ancara, as coisas começaram a ficar instáveis por lá e resolvemos desistir do país. Antes, li muitos relatos, posts e ouvi de muitos viajantes que eu deveria manter a viagem porque “a violência é muito pior no Brasil”.

De fato, o Brasil, infelizmente, é um dos países mais violentos do mundo e se formos contabilizar as vítimas de atentados terroristas e da violência urbana em nosso país, talvez a gente se dê conta de que o Brasil vive uma guerra também.

Acontece que viver no Brasil não é apenas uma questão de escolha, para muita gente. Nós (Fred e eu) vivemos aqui, pois é onde temos apartamento próprio, familiares, amigos, onde Fred faz mestrado, entre outros motivos. E também amo nosso país, apesar de tudo.

Mas o destino das nossas férias é, sim, uma escolha. E sair de um lugar onde o medo é um sentimento constante para outro em que teria que ficar em estado de alerta o tempo todo, não parecia uma boa opção para mim.

Por isso, substituímos a Turquia pela Croácia, que foi uma surpresa maravilhosa em nossa viagem. E justo nos nossos primeiros dias na Croácia, aconteceu o atentado em Istambul, onde provavelmente estaríamos, se tivéssemos mantido o nosso primeiro planejamento.

A Croácia, aliás, há algumas décadas, seria um país inviável para passar as férias, pois vivia em guerra. E hoje figura entre os destinos europeus mais badalados do verão.

Voltando às comparações entre a violência urbana no Brasil e os atentados terroristas, pode até ser que no mesmo dia do atentado em Nice, mais de 80 pessoas tenham sido mortas no Brasil. Mas, no caso de Nice, o fato de todas essas pessoas terem sido mortas em um único lugar e tendo como única razão o “ódio”, causa em nós uma sensação muito maior de terror (que é justamente a intenção dos grupos terroristas).

Além disso, depois de atentados terroristas, serviços de transporte públicos são paralisados, pessoas precisam procurar abrigos, como aconteceu em Munique, e começa a “caça às bruxas” para encontrar os autores dos atentados, investigar as razões para o ataque, descobrir os grupos envolvidos. E aí? Como seguir viagem em uma situação dessas?

Também um outro problema que surge com as ondas de atentados terroristas, são os casos de xenofobia.

Em nosso primeiro dia de viagem a Europa, quando chegamos em Munique, na Alemanha, havia uma manifestação na Marienplatz, que não sabíamos do que se tratava. Fred se aproximou para fazer uma foto do cartaz para depois traduzirmos. Uma mulher muçulmana, se aproximou dele e perguntou: – Árabe?

Depois que fizemos a tradução, descobrimos que a manifestação era para fazer um abaixo-assinado contra a construção de um centro islâmico em Munique.

Abaixo-assinado contra centro islâmico em Munique
Abaixo-assinado contra centro islâmico em Munique

Sim, como contei em um dos capítulos do meu livro “Dois no Mundo“, Fred tem uma aparência física de árabe e, por essa razão, já passamos por alguns pequenos problemas em nossas viagens e situações claras de preconceito.

Em nosso voo de volta ao Brasil, no aeroporto de Frankfurt, entre várias pessoas que passavam pela segurança, só usaram nele um detector de manuseio de explosivo. Eu, por exemplo, passei apenas pelo raio-X e revista.

Por essa razão, durante a viagem, especialmente na Alemanha, onde sabíamos que existia um maior risco de atentados e problemas com xenofobia, tomávamos bastante cuidado, para não agirmos de forma que pudesse gerar qualquer problema ou mal entendido. Por exemplo, andávamos de mãos dadas, algumas vezes, eu carregava a mochila.

Entre os países que visitamos, foi apenas na Alemanha que nos deparamos com uma situação que realmente nos deixou com medo. Na estação de trem principal de Dresden, quando estávamos comprando os bilhetes do trem para chegarmos ao nosso hotel, vimos uma mala abandonada no saguão e vários policiais em volta. Pegamos o nosso bilhete e saímos o mais rápido possível para a plataforma para pegar o nosso trem. Coincidentemente ou não, neste mesmo dia ocorreu o atentado na linha Treuchtlingen – Würzburg.

Não ficamos para saber o que aconteceu na estação de Dresden, mas, provavelmente, foi um alarme falso, pois dois dias depois pegamos o trem, no mesmo local, com destino a Frankfurt.

Mas, como dizia o Chapolin Colorado: “palma, palma, não priemos cânico!”. Não estou contando essas histórias para desestimular ninguém a viajar. Apenas para que vocês possam se informar bem e escolher com cuidado os destinos das suas próximas férias.

Eu sei que é impossível prever onde será o próximo atentado (senão, eles não aconteceriam), mas o mundo é grande, a Europa também, existem muitos lugares lindos para conhecermos e alguns que sabemos que estão em situações mais delicadas.

E sei também que todo viajante carrega em si uma ansiedade e acha que não terá outra oportunidade para conhecer aquele destino dos sonhos se não for na próxima viagem. Mas, sim, sempre virão outras férias e a cada destino que você riscar da sua lista, provavelmente, surgirá outro.

Como o exemplo que dei da Croácia, a situação política do mundo está em constante mudança. Então, aquele país que está na sua “bucket list”, que hoje vive tempos difíceis, no futuro, pode estar em uma situação bem mais tranquila e, certamente, você fará uma viagem mais proveitosa em tempos de paz.

E que estes tempos de paz cheguem logo para todo o mundo!

Dê à paz uma chance - Lennon Wall, Pragaa
“Dê à paz uma chance” – Lennon Wall, Pragaa

Em tempo, lamento profundamente por todas as vítimas de atentados terroristas, de xenofobia, pela situação dos refugiados e todas as vítimas de violência no mundo. =(

Viaje tranquilo

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