Ninguém disse que seria fácil. Eu já sabia antes de partir, pela experiência de alguns amigos, que a volta para casa era um dos momentos mais difíceis da Volta ao Mundo ou de um período sabático.

O primeiro mês foi um dos mais difíceis. Eu não deveria ter motivo para tristezas, estava voltando à minha terra, reencontrando a família e amigos. Mas era difícil cortar os laços com o mundo. Os meses seguintes, à medida que refazíamos a vida, as coisas começaram a melhorar. Fiquei mais conformada em voltar à tal vida real. Mas há momentos de altos e baixos e é impossível não sentir saudades e não ter aquela vontade de fazer tudo outra vez.

Refletindo sobre isso, listei as 5 coisas mais difíceis na readaptação pós Volta ao Mundo:

1- Rotina

“Se você pensa que a aventura é perigosa, eu sugiro que você experimente a rotina… É mortal.”

Quem diria, mas Paulo Coelho, definiu bem meu sentimento sobre ter que encarar a rotina na volta para casa. Embora, eu tenha buscado atividades em que tenha o máximo de flexibilidade, a rotina é sempre inevitável e tenho uma sensação que ela me mata lentamente. Nada é para mim mais sem graça do que dias previsíveis. Sensação oposta a que sentia durante a Volta ao Mundo, em que cada dia, era uma surpresa.

2- Violência no Brasil

Quando durante a viagem, os gringos me perguntavam sobre como era o Brasil, estrutura e violência, eu sempre botava panos quentes e amenizava a situação. Não, eu não estava sendo hipócrita, eu realmente não tinha a noção de quão violento era o Brasil. Mesmo tendo sido repórter por vários anos, eu não tinha essa noção, pois não tinha parâmetros de comparação. Só vivendo 219 dias tranquilos, sem ter medo de ninguém colocar uma arma na minha cabeça, é que me dei conta da loucura em que vivemos nesse país. E o pior, cada dia tenho menos esperança de que isso irá mudar. Isso realmente tem me entristecido muito. E me feito pensar se é aqui que quero passar o resto da minha vida.

3- Vida (nada) simples

Durante a Volta ao Mundo, me encantava viver de forma tão simples e ser tão feliz. Tinha 7 mudas de roupa, não sabia em que superfície iria dormir, comia na rua, andava de transporte público, não usava maquiagem, não fazia as unhas e alternava entre um tênis, chinelos ou sapatilhas.

De volta para casa, me chateia o fato de ter que depender de um carro para fazer coisas básicas, como ir ao supermercado, pois o transporte público aqui é inviável; tenho que me vestir “adequadamente” (se não o que vão falar?), comer na rua é pedir para ser extorquida, pois tudo no Brasil é caro, entre tantos outros fatos que dificultam manter um estilo de vida simples, apesar de que baixamos muitíssimo o nosso padrão com relação ao que tínhamos antes de viajar.

4 – Peixe fora d´água

Não há como passar 7 meses longe de amigos e familiares e, quando voltar, ser tudo a mesma coisa. Primeiro, eu mudei, minhas ideias mudaram. E ninguém é obrigado a acompanhar ou entender isso. É difícil fazê-los entender, por exemplo, que para mim é muito mais importante fazer uma próxima viagem do que comprar um carro. Também não é fácil explicar que preferi rejeitar propostas de bons empregos em troca de trabalhos freelancers. E ainda, como contar sobre aquele momento da viagem, sem parecer que está se exibindo?

5 – Saudade do mundo e dos amigos da estrada

Por fim, a própria saudade do mundo e dos amigos que fizemos na estrada faz a readaptação mais difícil. As lembranças de momentos especiais surgem a todo momento e é impossível não sentir aquele apertinho no coração.

Essa semana ainda conto para vocês sobre o que estamos fazendo pós viagens e quais os nossos planos. =)


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