Estávamos em um ônibus em Potsdam, uma bela cidade que fica cerca de 40 minutos distante de Berlim, quando entrou um senhor que aparentava ter mais de 70 ou talvez 80 anos e tentava comprar a passagem do ônibus na máquina com certa dificuldade. Depois de um tempo, uma moça o ajudou. Ele sentou próximo de onde estávamos eu, Fred e nossa amiga alemã Juli.

Pelo guia que tinha na mão, ele era um turista japonês. Viajando sozinho naquela idade. Começamos a pensar sobre o que o levara a viajar sozinho mesmo já sendo bastante idoso.

Juli e Fred comentaram que sentiam pena do velhinho por naquela idade não ter companhia para viajar. A princípio, também senti pena quando ele não estava conseguindo operar a máquina, mas, na verdade, eu também não sei mexer direito nelas. Então, logo pensei: “Que máximo! Nessa idade ainda ter vontade de viajar, de conhecer o mundo e ter coragem de ir sozinho”.

Imaginei que para estar viajando naquela idade sozinho, ele deveria ser um viajante experiente. Depois pensei: “e se só depois de idoso ele teve oportunidade de viajar, depois de uma longa vida de trabalho e cuidado com a família?”

Bem, a história do velhinho japonês, eu nunca irei saber já que não chegamos a conversar com ele, pois logo tivemos que descer do ônibus. Mas posso contar a vocês um pouco da minha história de viajante e sobre como nunca é tarde para começar a viajar.

Com esta última viagem, o Verão na Europa, consegui um feito que jamais teria passado pela minha cabeça 4 anos atrás: completei todas as páginas do meu primeiro passaporte antes de vencer (a data de expiração dele é janeiro 2017). E, claro, muito mais importante do que os carimbos em si são as experiências que vivi em cada uma dessas viagens que fiz ao longo dos últimos anos.

Fiz a minha primeira viagem internacional aos 26 anos e o primeiro mochilão, que já foi a Volta ao Mundo, aos 27. Hoje, aos 30, viajei por 37 países, tendo conhecido, na maioria deles, pelo menos 3 ou 4 cidades.

O que quero contar para vocês é que tudo isso parecia algo muito distante da minha realidade alguns anos atrás. Não venho de família rica e posso contar nos dedos de uma mão as viagens que fiz quando criança. Meus pais, normalmente, viajavam uma vez por ano, mas a grana era curta e não dava para nos levar. A gente viajava pelo estado (nasci e vivo no Rio Grande do Norte), mas fora isso, até a adolescência só conhecia o Rio de Janeiro e Salvador. Só tinha viajado de avião 1 única vez na vida até os 19 anos.

Todos os anos quando meus pais iam viajar, eu pedia para eles nos levarem, mesmo sabendo que era período escolar, e meu pai me dizia: – Quando você crescer, você vai viajar muito.

Quando casei, aos 24 anos, diferente dos outros que já começavam a perguntar sobre filhos, meu pai dizia: – Você tem mais é que viajar!

Mas o desejo era tudo que eu tinha e viajar para fora do país parecia ainda um sonho distante. Lembro que na nossa lua de mel, que foi em Florianópolis, comentei com Fred: – Será que quando a gente completar 10 anos de casados a gente consegue viajar para Paris?

Ele me respondeu: – Não sonhe tão baixo, a gente vai muito antes disso.

A princípio achei a resposta um pouco insensível da parte dele, pois a realidade entre as nossas famílias era um pouco diferente. O pai de Fred trabalhou a vida toda viajando pelo mundo, os irmãos moraram fora. Enquanto eu, até a época em que nos casamos (em 2010), tinha no máximo uns 3 parentes que já tinham viajado para o exterior.

Em Paris, em 2012
Em Paris, em 2012

Acontece que muita gente parece não lembrar, mas viajar, principalmente para o exterior, era coisa de rico alguns anos atrás. Não importa se o dólar era R$ 1, se o salário na época era de R$ 64,79 (1994).

Mas que bom que as coisas mudaram, viajar se tornou mais barato e acessível. Apesar de que nos últimos dois anos, as coisas têm ficado mais difíceis. Dois anos depois da nossa lua de mel, conseguimos fazer a nossa primeira viagem para o exterior. E foi para essa viagem que tirei o meu primeiro passaporte, em janeiro de 2012. O blog surgiu em fevereiro do mesmo ano.

Viajamos por onze dias por quatro países, ou seriam cidades: Lisboa, Barcelona, Paris e Londres. Gastamos a grana que hoje em dia viajaríamos por uns dois ou três meses, compramos presentes e lembrancinhas para a parentada toda. Lembro que antes de viajar também comprei um monte de roupa, afinal, tinha que sair bonita nas fotos com a Torre Eiffel.

Essa era a forma que eu conhecia de viajar: ficar em bons hotéis, comer em bons restaurantes, visitar atrações mais famosas, estar bem vestida para as fotos e trazer presentes para todos. Afinal, se a gente só fazia aquilo uma vez na vida, podíamos gastar nossas economias.

Na Tailândia, durante nossa Volta ao Mundo
Na Tailândia, durante nossa Volta ao Mundo

O tempo de viagem foi curto, mas suficiente para ser contagiada pelo vírus responsável pelo vício em viajar. Dali para frente eu sabia que era aquilo que eu queria fazer da minha vida.

No mesmo ano, viajamos para Buenos Aires e começamos a planejar a Volta ao Mundo, que fizemos em 2013. Em 2014, fiz uma viagem curta com uma amiga pelo Uruguai e Argentina. Em 2015, fizemos a viagem pelo continente americano e, agora, viajamos pela Europa pela terceira vez.

Mas isso significa que nós ganhamos muito dinheiro nesses últimos anos que nos permitiu fazer essas viagens? Não exatamente. Significa que viajar se tornou uma prioridade em nossas vidas, ou pelo menos uma delas, e organizamos nossa vida e orçamento em torno disso. Também mudamos a forma de viajar, fazendo tudo da maneira mais econômica. Gastar menos para viajar mais.

Ao longo desses anos, abrimos mão de muitas coisas para poder viajar. E digo isso porque muitas pessoas me falam que gostaria de viajar o tanto que a gente viaja, mas não exatamente como a gente viaja. O que traduzindo significa dizer que a pessoa quer viajar o tanto que eu e Fred viajamos, desde que não seja mochilão, que não seja hospedado em hostel, economizando… E para isso, realmente, é preciso ter muito dinheiro. O que não é o nosso caso.

San Blás, Panamá, durante o Dois na América
San Blás, Panamá, durante o Dois na América

Também escuto muita gente reclamar que não tem companhia, que já está velho demais para se hospedar em hostel (mal sabe que hostels têm quartos privados com banheiro), que falta dinheiro (mas o celular e o carro são novos), enfim, uma série de desculpas para dizer que gostaria de viajar, mas não pode.

Eu entendo perfeitamente que para a maioria da população brasileira viajar continua sendo um luxo, mas para uma outra parcela, viajar é, sim, possível.

Da próxima vez que você curtir uma foto de viagens no Instagram e sentir aquela “inveja branca”, se pergunte: – É viajar o que eu realmente quero?

Se a resposta for NÃO, não tem problema. Também pode ficar de boa e ser feliz com o celular novo, carro novo, a roupa nova, a cervejinha com os amigos ou show da banda favorita. E pode continuar viajando pelos blogs, redes sociais, livros, filmes.

Nos Lagos Plitvice, Croácia, em junho de 2016
Nos Lagos Plitvice, Croácia, em junho de 2016

Se a resposta for SIM, faça uma “bucket list” dos lugares em que você sonha em conhecer, marque um asterisco nos que mais se aproximam do seu orçamento. Planeje-se, estabeleça um prazo para realizar a viagem, comece a pesquisar sobre o destino, veja o que você pode cortar de gastos, o que você pode vender (não precisa ser nenhum bem caro, você pode fazer um bazar de livros, roupas e objetos que não usa), faça um cofrinho, pense em possibilidades mais econômicas (hostel, AirBnb, Couchsurfing…), se não tem companhia (procure em grupos de viajantes ou comece a pensar na possibilidade de ir só (te garanto que em poucos momentos você estará realmente só).

Mas pare de dar desculpas.

Não precisa encher o passaporte de carimbos, apenas ser feliz com suas decisões! =)

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