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Marajó (PA): uma ilha de muitos encantos

Olá viajantes!

Hoje vamos continuar com nossas descobertas pelo encantador estado do Pará com a nossa guia Ana Maria Novaes, ela que já nos apresentou as belezas de Belém e de Santarém, Altér do Chão, Ponta do Cururu e Ponta das Pedras, nos leva agora para conhecer a Ilha do Marajó.

As belezas e a cultura singular do arquipélago estão muito bem retratadas no texto que nos leva a sonhar com o lugar, que parece mesmo cenário de novela, inclusive, alguns capítulos e cenas de “Amor Eterno Amor”, atual novela das 6, foram gravadas em Soure (considerada capital da ilha).

Boa viagem!

Ilha do Marajó (PA) por Ana Maria Novaes  

Antes de iniciar a “nossa viagem”, trago pra vocês algumas preciosas e relevantes informações sobre a região.

A maior ilha flúvio-marítima do mundo, chamada de Arquipélago do Marajó, está localizada no extremo norte do Pará e integra um conjunto de quase 500 ilhas. Banhada por rios, pela baía do Marajó e pelo Oceano Atlântico, ela possui uma área de aproximadamente 50 mil km².

Foto: www.redemulticult.com.br

A palavra Marajó é originária do tupi mbara-yó que significava “Barreira do Mar“ para os portugueses, pois a ilha estaria posicionada estrategicamente para barrar as tormentas do oceano sobre o Amazonas; já para os indígenas, significaria “o vento que sopra a tarde sobre a ilha“.

Marajó é composta por 12 municípios: Salvaterra, Soure, Cachoeira do Arari, Santa Cruz do Arari, Chaves, Ponta de Pedras (não confundir com a Praia de Ponta de Pedras do Tapajós), São Sebastião da Boa Vista, Muaná, Curralinho, Breves, Afuá e Anajás; se falamos em termos de arquipélago, a ilha conta ainda com mais 4: Gurupá, Portel, Bagre e Melgaço, perfazendo um total de 16 municípios.

Cercada pelo oceano Atlântico e pelos rios Amazonas e Tocantins, a Ilha de Marajó também é palco da “pororoca” – fenômeno de formação de ondas gigantescas no encontro das águas fluviais e marinhas.

A paisagem da ilha é bem diversificada e exuberante – a vegetação vai desde alagados, à floresta amazônica – com muitos rios, belas praias de água doce e salgada e uma grande variedade de pássaros e peixes.

Guarás, garças e búfalos nos campos do Marajó. Foto: Dario Pedrosa

O lado leste da ilha apresenta uma planície coberta de savana; o oeste, de densas florestas.

O clima na ilha é de chuva constante, mas faça sol ou faça chuva, é muito fácil de avistar as aves locais. Entre elas, destacam-se os guarás, os mergulhões, as garças e os jaburus.

Guará (Red Ibis). Foto: Nirlando Lopes

De junho a janeiro – quando o clima está um pouco mais seco – os passeios ficam mais acessíveis; nos outros meses Marajó fica praticamente alagada devido ao alto índice pluviométrico.

Durante o período de chuvas intensas – entre fevereiro e maio – parte do território de Marajó fica inundado. Isto propicia ótimas condições para a criação de búfalos e faz com que a ilha abrigue o maior rebanho do Brasil.

Búfalos

Esses animais são muito dóceis e são utilizados normalmente no transporte, tanto no campo, quanto nas cidades.

Pratos preparados com carne de búfalo representam o forte da cozinha regional e podem ser encontrados em restaurantes de Soure. A carne de búfalo tem uma grande vantagem: 50% a menos de gordura que a carne de boi, mas para saboreá-la nos restaurantes locais é aconselhável que o pedido seja feito com algumas horas de antecedência, devido ao preparo especial que essa carne exige.

As florestas da região são muito ricas em frutas e alimentos, o que garante a presença dos animais. Entre as árvores, os açaizais são facilmente encontrados.

Açaizais

Presente na culinária, a cultura marajoara também se faz presente nas apresentações de danças folclóricas, como carimbó e lundu.

A cerâmica marajoara é outra grande atração oferecida pela ilha. Os objetos de cerâmica foram descobertos em escavações arqueológicas e são as únicas relíquias do povo marajoara – que dominou a região até o século 14.

Cerâmica marajoara

Os mais representativos são os vasos e jarros decorados com desenhos de animais ou partes do corpo humano e urnas funerárias, nas quais eram enterrados os líderes da tribo; eles podem ser vistos no Museu Emílio Goeldi, em Belém, ou no Museu do Marajó, em Cachoeira do Arari, a 74km de Soure (infelizmente não tive a oportunidade de visitar). As lojas de artesanato locais também oferecem exemplares dessa arte para compra.

A principal cidade da ilha é Soure, considerada sua “capital”, mas tanto ela quanto Salvaterra destacam-se pelas suas estruturas e atrativos turísticos.

E então, preparados? Aí vão as dicas finais: é proibido caçar na ilha e prepare corretamente a sua bagagem – inclua uma rede, um edredon; na mochila coloque poucas roupas, sem esquecer-se do boné, protetor solar, repelente, chinelo ou calçado bem confortável para caminhada, roupas para banho e uma boa máquina fotográfica!

Aqui começa a “nossa viagem” ao Marajó!

Tudo tem início no Terminal Hidroviário de Icoaraci, a 20 km do centro de Belém, numa madrugada de sábado, com direito a um simples e delicioso café da manhã numa dessas barraquinhas de rua – tapioca com ovo frito e um cafezinho bem quentinho para despertar os sentidos!

Café da manhã em Icoaraci

Se você for de carro e quiser aproveitar o dia, saia na embarcação das 4h da manhã (aos sábados). Quando for programar a sua viagem consulte os preços e horários pelo site: www.henvil.com.br.

Os navios são simples, mas bem convidativos… pra quem gosta de dormir de rede é um prato cheio! …a parte refrigerada é muito fria!

Interior do barco (parte refrigerada)

Se você quiser tirar fotos e admirar a vista, a parte superior é aberta!

Vista de Icoaraci, às margens do Rio Guajará, às 4:30h da manhã

São quase 4h de viagem até o Porto de Camará (Salvaterra) e, se você quiser ser contemplado com um belíssimo e presente da natureza, fique acordado e aguarde o sol nascer… simplesmente inesquecível!!!

5h da manhã
5h30 da manhã

O sol nasceu!

6h da manhã

Amanheceu e eu não “preguei o olho”…como eu poderia perder tudo isso???

Terra à vista! …Já conseguimos visualizar uma pontinha da ilha!

Ilha de Marajó

Já estamos chegando ao Porto de Camará, em Salvaterra.

Vista de Salvaterra pelo interior do barco

Salvaterra…finalmente pisamos em terra firme!

Vista de Salvaterra pelo interior do barco

Se você não for de carro, pegue a van que faz o transporte até Soure no próprio Porto de Camará. O trajeto dura cerca de 20 minutos, com direito a travessia de balsa.

Assim que chegamos a Salvaterra fomos conhecer a principal praia do município – Joanes. O local é muito lindo…parece que foi pintado a mão! A vila é bem pequena, com poucas pousadas e bem rústicas.

Lado esquerdo da praia de Joanes
Lado direito da praia de Joanes

Marconi e Lúcio se perguntando…“E agora? Vamos para outro lugar ou ficamos por aqui mesmo? …ô decisão difícil!!!

Lado direito da praia de Joanes

Depois da votação, o próximo destino escolhido foi as ruínas de Joanes. Dizem que Marajó já teria sido descoberta pelos europeus, antes mesmo do descobrimento do Brasil… será???

Ruínas da praia de Joanes
Ruínas de Joanes
Rosangela e Ana Maria na praia de Joanes

A Ilha Grande de Joanes está relatada em documentos que teriam sido usados por Cabral para fazer a rota do descobrimento. Por sinal, este foi o primeiro nome da ilha de Marajó, hoje apenas o nome de uma das vilas do município de Salvaterra, onde ainda estão as ruínas das estruturas construídas pela missão evangelizadora.

Saindo de lá partimos para Soure. A única via asfaltada do vilarejo é a que nos leva até a balsa que faz a travessia Salvaterra/Soure; as demais ruas são de terra batida.

O que mais vimos durante este percurso? Os búfalos, os ícones turísticos da ilha! Até o serviço de limpeza da cidade é feito com o auxílio deles!

Foto:http://boleiadatoyota.blogspot.com.br

Chegamos à balsa e, depois de uma boa espera, iniciamos a travessia de balsa pelo Rio Paracauari…

Travessia de balsa Salvaterra / Soure

Não resisti a este rostinho… nele você percebe as feições dóceis dos caboclos da ilha, um olhar mais arredondado, tão encantador quanto aquele olhar mais “puxadinho” dos indígenas de outras regiões do Pará…ôwww bebê lindo!!!

Caboclinha da ilha fotografada na balsa

Chegamos a Soure!

Vista de Soure pelo Rio Paracauari

E estes são os nossos queridos anfitriões!

Elizângela e Rogério

Soure é uma cidade com cara de interior, bem organizada e toda dividida em quadras,
nomeadas com letras e números.

Centro de Soure

Depois de um breve city tour pela cidade fomos deixar a nossa bagagem no hotel.

O Casarão da Amazônia é um desses casarões antigos, restaurados por um italiano,
um lugar encantador! Nota 10, P-E-R-F-E-I-T-O!!! Instalações, atendimento, café da
manhã, serviço de quarto com toalhas e roupas de cama impecavelmente brancas e
uma piscina com uma maravilhosa hidro para relaxar depois das caminhadas!

É tudo o que a gente precisa depois de um dia repleto de muiiiitas emoções!

Fachada do Hotel Casarão da Amazônia
Área de lazer do hotel
Dependências externas do hotel
Lúcio, Rosangela e Ana Maria (novamente juntos...rsrsrs)

Depois de fazer o check in, pé na estrada!

Durante o dia, você pode visitar as grandes fazendas, como a São Jerônimo ou a
Araruna.

Porteira de entrada da Fazenda Araruna

Elas oferecem variadas opções de lazer: trilhas por manguezais, cavalgadas, banhos nos igarapés e praias de água doce (tudo isso vai ficar para a próxima) e de ver os mais variados e coloridos pássaros – guarás, garças, tucanos, periquitos, corujas, gaviões – e animais da região – cotias, macacos-guariba, lagartos, tartarugas capivaras, bichos preguiça, jacarés e, é claro, os anfitriões da ilha: os búfalos!

Como as fazendas são propriedades privadas, é interessante fazer os passeios acompanhados de um guia. O serviço não é muito barato, mas se você está a fim de conhecer lugares lindos, tente negociar. Ele vai levar você a lugares exóticos e bem escondidos, verdadeiros paraísos ecológicos.

Optamos por conhecer “de raspão” a Fazenda São Jerônimo, mas antes disto demos uma passadinha pela fazenda do Rogério e da Elizângela.

Marconi na porteira de entrada da fazenda do Rogério e da Elizângela

Foi interessante ver como ela retira a água para dar de beber aos animais… um jeito rústico, artesanal –  encantador!

Elizângela puxando a água do poço na sua fazenda

Fazenda São Jerônimo

Quem assistiu à terceira edição do programa No Limite (TV Globo) ficou conhecendo este verdadeiro paraíso ecológico!

E foi assim que começou a história da Fazenda São Jerônimo como ponto de atração turística. Depois das gravações, D. Jerônima, nativa do Marajó e moradora do Rio de Janeiro, foi procurada pelo Sebrae-PA que a incentivou a abrir a pousada e o restaurante, dando todo o apoio necessário para a implantação do negócio.

O lugar é muito bonito. Tem praia, mata, mangue, búfalos, muitas árvores frutíferas e um igarapé, no qual são organizados passeios em canoas, com guia especializado. Nesta viagem só tivemos condições de conhecer um pedacinho deste paraíso.

Entrada da sede da Fazenda São Jerônimo
Dependências da fazenda
Área externa, próxima à cozinha

Soure é também uma região de magníficas e exuberantes praias, onde se destacam as de Pesqueiro e a de Barra Velha.

Praia do Pesqueiro

Esta praia, praticamente inexplorada, possui 3km de extensão e é uma das mais conhecidas.

Não parece um sonho?

Praia de Pesqueiro

Ela é a praia mais visitada por ser a mais próxima da cidade e por possuir a melhor infra-estrutura, com barracas onde se podem saborear deliciosos peixes e caranguejos fresquinhos.

Barracas na Praia de Pesqueiro

Lúcio, o que você está fazendo com os óculos da Ruth??? O que vamos ter pra tira-gosto?

Lúcio, Marconi e Ruth

Para acompanhar aquela “gela”, só deu caranguejo dessa qualidade!!!

Caranguejo na água e sal

E assim ficamos até o final da tarde… curtindo o sol, a praia, as (muitas) cervejas geladas e os “carangas” de Pesqueiro!!!

Em pé: Rosângela, Rogério e Lúcio...Ana Maria (por detrás das lentes) Sentados, de costas: Elizângela, Ruth e Marconi

“Xau, xau” Pesqueiro, um dia eu volto!

Praia de Pesqueiro

Saindo de Pesqueiro, fomos para o centrinho de Soure, para “curtir a night”!

Orla de Soure

Passeamos pela orla até um desses trapiches, tudo encantadoramente iluminado!

Trapiche na orla de Soure

No centro de Soure, pudemos assistir a um ensaio de dança típica.

Dança típica

E saborear os quitutes da terra.

Vatapá, maniçoba, tacacá (consumido com ou sem a goma)
Rosangela saboreando um autêntico tacacá (com goma, camarão seco e jambu)

Por fim, retornamos ao hotel pra desfrutar aquela hidro!

Exaustos, porém felizes, e muiiiito!

Hora de dormir, que amanhã tem Barra Velha…psiuuu… “do not disturb”

Ana Maria
Identificação do quarto no hotel Casarão da Amazônia

Bom dia! Hoje vamos conhecer mais um lugar incrível – Praia de Barra Velha

Para chegar até lá a gente deixa o carro um pouquinho distante, atravessa uma ponte de madeira que passa por cima de um igarapé, e anda…

Lúcio no caminho para Barra Velha

Será que o sacrifício compensa? …falta mais um pouquinho, mas o visual já é de tirar o fôlego! Belíssimo!

Rosângela e Ana Maria

Chegamos a Barra Velha! …incrível a vegetação! …e o tamanho das raízes!

Ana Maria
Vegetação típica com raízes a mostra

Vista da mesma árvore de outro ângulo, já na praia de Barra Velha.

Vegetação típica com raízes a mostra

E esta foi a barraca que escolhemos para passar o dia.

Barraca de praia em Barra Velha

No Pará, come-se o caranguejo acompanhado com um bom feijão preto e a inseparável farinha grossa! Detalhe para a pilha dos “restos mortais” dos “bichinhos”…rsrsrs

Elizângela, Lúcio, Ruth e Ana Maria

Nossos anfitriões com o Lúcio e a Ruth, que não larga do “caranga”! O detalhe agora vai para a panela de feijão em cima da mesa…chiquérrimo de simples!

Rogério, Elizângela, Lúcio e Ruth

Ana Maria e Marconi, já tristes de tanto comer…mais um detalhe interessante: o isopor onde se lê: bolo, chopp e coxinha… o que está aonde??? …E só pra esclarecer “chopp” paraense = “dim-dim” potiguar = “chup chup” dos paulistas.

Ana Maria e Marconi

Por fim, só mesmo agradecendo aos nossos anfitriões pela calorosa e maravilhosa recepção!

Elizângela, a dona da barraca e Rogério

Hora de voltar pra Belém…

…mas antes de ir embora, dê um pulinho no centro da cidade e experimente o queijo marajoara, feito com o leite de búfala, uma das delícias da terra!

Rosangela (minha “ubermodel”...rsrsrs) provando o queijo do Marajó

Bastante consumido em toda a ilha de Marajó e em Belém, o “Queijo do Marajó” começou a ser produzido pelas famílias dos fazendeiros descendentes de portugueses e franceses.

No início, o leite usado era o de vaca, mas com a criação e a adaptação do búfalo ao arquipélago, aos poucos o leite de vaca foi sendo substituído pelo de búfala.

Hoje, dependendo da sazonalidade, o queijo do Marajó é produzido com um mínimo de 40% de leite de búfala, mas há épocas do ano em que esse percentual chega a 100%. O leite de búfala é sempre o preferido pelos produtores e consumidores pois, além de  ter um baixo índice de colesterol, ele tem mais sais minerais e mais proteínas.

Mironga – a marca de queiijo marajoara mais difundida na ilha

E se você ainda tiver tempo sobrando – o que não foi o nosso caso – uma dica é alugar uma bicicleta e sair sem destino certo. Se conseguir visitar algum curtume, acompanhe todo o processo de limpeza do couro, passando pelo tingimento, até a preparação de artesanatos, como chaveiros, sandálias e bolsas. Você também pode visitar os artesãos locais, que trabalham com madeira e cerâmica marajoara.

Agora chegou a hora de se despedir dos amigos…e novamente fazer a travessia de balsa Soure / Salvaterra e encarar mais 4h de barco de Salvaterra para Belém…

Porto de Camará (Salvaterra)

Despedir-se é sempre difícil…mas necessário…

Vegetação típica da região
Vista da Ilha de Marajó
Vista da Ilha de Marajó

Se eu faria essa viagem novamente?  Vou responder com este trecho de cantoria de carimbó:

“Quando morrer, se eu não for pro céu, ah! eu quero ir lá pro meu Marajó”