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Lajedo Soledade (Rio Grande do Norte): sítio arqueológico e pinturas rupestres – onde o sertão já foi mar

Na cidade de Apodi, no sertão do Rio Grande do Norte, a 340 km de Natal, fica o Lajedo Soledade, uma área de aproximadamente 2km2, que há aproximadamente 90 milhões, já foi fundo do mar. O Lajedo é um sítio arqueológico que guarda pinturas rupestres que teriam entre 3 a 5 mil anos e fósseis de animais da Era Glacial. Nós visitamos o Lajedo Soledade, em uma viagem que fizemos pelo RN, com os nossos sobrinhos, e tanto nós quanto eles ficamos impressionados com a quantidade de pinturas e como elas estão bem conservadas.

O Lajedo Soledade já foi fundo do mar há 90 milhões de anos, aproximadamente

Os primeiros registros de que foram encontradas pinturas rupestres no Lajedo datam de 1796. Mas só em 1991 foi estabelecido que o local era um sítio arqueológico e que deveria ser preservado. Antes disso, o Lajedo era uma área de extração de calcário. “O que a natureza levou milhões de anos para construir, o homem levou 3 décadas para destruir. Eles extraíam o calcário para fazer cal e vender para usinas de açúcar”, nos contou o nosso guia no Lajedo, Cláudio Sena, que é também diretor do Museu e da Fundação Amigos do Lajedo Soledade.

Ravena da Dodora, homenagem a Maria Auxiliadora, que lutou pela preservação do Lajedo

Cláudio nos contou que uma mulher, a professora Maria Auxiliadora, foi a principal defensora da preservação do Lajedo. Na década de 1970, ela tentava conscientizar os moradores da localidade, que dependiam da quebra de pedras, sobre a  importância de preservar o patrimônio. Quando se tornou professora, convencia as crianças a falar com os pais para não destruir o Lajedo.  

A formação geológica do Lajedo Soledade é de rocha calcária de origem marinha

A luta de Dodora era solitária, até que em 1987, o Geólogo Geraldo Gusso visitou o local e, juntamente com outro geólogo, Eduardo Bagnoli, começaram a pesquisar o Lajedo e fizeram a demarcação da área de valor científico e cultural.

Querido, encolhi as crianças!

Dodora ajudou a criar a Fundação Amigos do Lajedo de Soledade (FALS) e, com investimentos da Petrobras, foram feitas capacitações de guias e também de moradores da região para produzir artesanato. Assim, eles poderiam ter outras fontes de renda, no lugar da exploração do calcário.

Coruja no Lajedo Soledade

Cláudio nos explicou que a formação geológica do Lajedo Soledade é de rocha calcária de origem marinha, o que comprova que o sertão já foi mar um dia. No sítio, também foram encontrados alguns fósseis de animais marinhos.

Cláudio mostrando um fóssil, que ainda permanece no Lajedo

Hoje em dia, parecem crateras da lua. E no período de chuvas, as formações são preenchidas com água, que formam pequenos riachos. O que deixa a paisagem ainda mais bonita.

Formação de pequenos riachos no Lajedo com água da chuva

O passeio no Lajedo Soledade leva em torno de 1h30 a 2h e só é feito com acompanhamento de guia. O ponto de encontro é no Museu e, depois vamos de carro até o sítio arqueológico.

Cláudio nos apresentando o primeiro painel no Lajedo Soledade

A trilha é de nível fácil e pode ser feita por crianças, mas é preciso tomar cuidado, pois o caminho é quase todo por entre as crateras. Não demora muito e chegamos ao primeiro painel, como eles chamam os locais onde estão as pinturas.

Com nossos sobrinhos: Serginho e Maria

Cláudio nos conta que as pinturas do Lajedo são da chamada Tradição Agreste (O Lajedo é um dos sítios mais importantes do Brasil neste tipo de tradição) e que teriam entre 3 a 5 mil anos (1 a 3 mil anos antes de Cristo). Mas esta é só uma estimativa, pois a datação feita teve um resultado indeferido. “As pinturas do Lajedo  não tinham matéria orgânica para usar o Carbono 14. Então, a datação toma por base outros sítios arqueológicos,  como Serra da Capivara (Piauí). Mas nos Estados Unidos tem um novo método de datação com pequenas porções de carbono e, com esse método, daria para fazer a datação com precisão. Então, queremos fazer esse”.

Passando por entre os labirintos do Lajedo

As pinturas se dividem em Grafismo Puro ou Abstrato, que não conseguimos identificar o que representam; Grafismo de Composição, que são aqueles em que é possível identificar o desenho; e Grafismo de Ação, nos quais as figuras  interagem.

As representações das figuras do Lajedo são araras, papagaios, garças, lagartos e formas geométricas não decifradas. Mas você pode usar a imaginação também para interpretar algumas delas. O que é ótimo de fazer, especialmente, para quem faz a visita acompanhado de crianças.

Cláudio nos explica que as pinturas eram feitas com óxido de ferro. Ainda hoje no lajedo tem várias pedrinhas desse mineral, que ele usa para demonstrar, com elas podem ter cores diversas, com tons em vermelho, amarelo e preto. “É preciso lembrar também que esse homens eram nômades e que os desenhos de animais, por exemplo, não representam necessariamente animais daquela região”.

Para mim, parece uma bruxa, mas seria uma arara

Para ficar ainda mais interessante, a visita é feita de uma forma em que vamos vendo as pinturas, das mais abstratas às mais realistas. O final do passeio é no Museu, onde estão os fósseis encontrados no Lajedo, como bicho-preguiça e tatus gigantes, mastodontes e tigres-de-dente-de sabre, e peças indígenas, além de painéis com explicações sobre o sítio arqueológico. “Os índios que habitavam essa região eram os  Tapuias Paiacus, mas as pinturas foram feitas bem antes deles, pelos homens pré-históricos”, destaca Cláudio.

Como comentei, os nossos sobrinhos adoraram a visita ao Lajedo e acharam super interessante, assim como nós. Mas, infelizmente, 90% das visitas do sítio arqueológico ainda são de estudantes e professores, em aulas de campo. São cerca de 700 por mês. E o Lajedo ainda é pouco visitado por turistas.

Com nosso guia, Cláudio

Para fazer a visita, o ideal é agendar com antecedência. Para cada grupo de até 15 pessoas é cobrada a taxa de R$ 30,00  para o guia e  uma taxa de R$ 5 por pessoa pela entrada no museu e sítio arqueológico. Para grupos de escolas públicas o valor da entrada fica R$ 3,00 por pessoa.

Ninho de beija-flor em um pé de urtiga no Lajedo Soledade

O ideal é fazer visita pela manhã cedo, pois com o sol do sertão não se brinca. Não esqueça de levar protetor solar, óculos de sol, boné e sapatos fechados. Eu também prefiro ir de calça e camisa de mangas, de um material leve para se proteger do sol. Eu uso sempre camisa com proteção solar para fazer trilhas em sol muito forte e ajuda muito.

Fósseis no Museu do Lajedo Soledade

Para quem quiser, passar a noite, em Apodi tem algumas pousadas, mas também pode se hospedar em Mossoró, segunda maior cidade do RN, que fica a 83 km do Lajedo.

Lajedo Soledade

http://www.lajedodesoledade.org.br/

Contatos
084 3333-1017 Museu
084 99911-9070 Diretor, Cláudio Sena ( voz e WhatsApp )

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