No dia 13 de junho de 1927, Mossoró, no Rio Grande do Norte, entrou para história como a primeira cidade nordestina (alguns relatos dizem que foi também a única) a expulsar o bando do cangaceiro Lampião, com a participação do povo. Esta história de resistência do povo mossoroense é recontada, todos os anos, no espetáculo “Chuva de Bala no País de Mossoró”, apresentado durante o Mossoró Cidade Junina. A encenação chegou este ano a 16a edição, celebrando os 90 anos do acontecimento, que ainda hoje é motivo de orgulho para a cidade. Nós viajamos a Mossoró, neste fim de semana, e assistimos pela primeira vez ao espetáculo. Saímos impressionados com o espetáculo que é uma superprodução que conta com 76 artistas mossoroenses e quase 150 profissionais na produção e é encenada em frente à Igreja de São Vicente, onde o combate realmente aconteceu. O Chuva de Bala será apresentado até o próximo dia 30 e, quem tiver a oportunidade, vale a pena conferir.
Mossoró é a segunda maior cidade do Rio Grande do Norte e, é considerada a “capital cultural do estado” e além da tradição em realizar grandes eventos culturais, tem artistas muito talentosos. A apresentação do Chuva de Bala acontece dentro da programação junina da cidade, que tradicionalmente realiza uma das maiores festas de São João do Nordeste.
O espetáculo é uma adaptação do texto do poeta e escritor potiguar Tarcísio Gurgel e a cada ano ganha uma nova roupagem. A produção é genuinamente potiguar com direção de João Marcelino, e não deve em nada a nenhum outro grande espetáculo nacional. A apresentação é ao ar livre, na frente da igreja e é gratuita.
Este ano, a inovação do espetáculo ficou por conta da utilização de elementos multimídia. Ficou muito interessante uma mistura de teatro, cinema e musical. Além do painel de LED, com a exibição dos vídeos de curta metragem com gravações externas com os próprios atores do espetáculo, o único “cenário” é o adro da Igreja de São Vicente, local onde o fato histórico aconteceu. A torre da igreja foi usada como trincheira, o que fez Lampião, que era muito religioso, acreditar que “em Mossoró, até os santos atiravam”. A atuação dos atores, a música, iluminação e a beleza dos figurinos são mais que suficientes para prender a atenção da plateia por 1h30 de espetáculo. Acho, que as fotos dão uma ideia melhor da beleza do espetáculo.
O ponto alto da encenação, claro, é a “chuva de bala”, que teria durado por quase 2 horas, no embate entre cerca de 80 cangaceiros e 200 mossoroenses. O tiroteio deixou ferido o cangaceiro Jararaca, que era um dos mais importantes e cruéis membros do bando de Lampião e depois foi enterrado vivo em Mossoró. O curioso é que, hoje em dia, Jararaca se tornou uma espécie de “santo” porque, antes de morrer, ele teria se arrependido dos seus crimes e o túmulo dele é o mais visitado no Dia de Finados no cemitério de São Sebastião, em Mossoró. Inclusive, pessoas de outros estados viajam até o município para pagar promessa com a visita ao túmulo do cangaceiro.
O Chuva de Bala no País de Mossoró será apresentado até o próximo dia 30 de junho. A encenação acontece de quinta-feira a domingo, às 21h, em frente a Igreja de São Vicente. Antes do espetáculo tem o “Anima Chuva” sempre uma apresentação musical. Quem quiser sentar tem chegar bem cedo.
Quem tiver interesse em conhecer mais sobre a história de Resistência de Mossoró, pode visitar o Memorial da Resistência, que fica por trás da igreja.
Morte de Lampião
Depois da expulsão de Mossoró, o bando de Lampião ainda continuou tocando terror pelo Nordeste até 28 de julho de 1938, quando ele, Maria Bonita e mais 9 cangaceiros foram mortos e tiveram suas cabeças arrancadas (alguns ainda em vida), na Grota do Angico, no município de Poço Redondo, em Sergipe.
Este ano, nós fizemos o passeio pelo rio São Francisco chamado “Rota do Cangaço”, que inclui a trilha até o local onde Lampião e o bando foram mortos.
O relato sobre esse passeio este neste post:
Mossoró Cidade Junina
O Chuva de Bala faz parte da programação do Mossoró Cidade Junina, que este ano vai até o dia 02 de julho, e tem uma vasta programação em vários pontos da cidade. Ao lado da igreja de São Vicente, fica a Cidadela, que tem um pequeno palco e vários estandes de comida, bebida, artesanato e brincadeiras juninas e até um Pau de Arara Eletrônico.
Próximo dali, na Estação das Artes Elizeu Ventania ficam dois grandes palcos, onde se apresentam bandas locais e nacionais. No último sábado, dia 24, a Estação, que é um espaço enorme, lotou com o show de Michel Teló.
A programação conta ainda com Festival de Quadrilhas Juninas, na Arena Deodete Dias – Corredor Cultural Professor Antônio Gonzaga Chimbinho.
Confira a programação completa: http://mossorocidadejunina.hospedagemdesites.ws/programacao/
Como chegar a Mossoró
Mossoró fica quase na divisa com o Ceará, a 278km de Natal e a 245km de Fortaleza, no Ceará. O trecho entre Natal-Mossoró é quase todo pela BR 304 e Fortaleza-Mossoró pelas BR 106 e 304.
Não existem voos comerciais para Mossoró. Mas há várias opções de ônibus, partindo dessas duas capitais.
Ônibus para Mossoró, saindo de Natal
Ônibus para Mossoró, saindo de Fortaleza
Mossoró tem boas opções de hospedagem, inclusive, o Thermas Hotel & Resort, com 12 piscinas com toboáguas (várias delas, termais) , lago artificial, restaurantes.
Reserve sua hospedagem em Mossoró
Fotos: Fred Santos