Parece que foi ontem que eu chorava copiosamente em um quarto de um hostal em Madri. Era hora de fazer as malas, ou melhor, a mochila para casa. Apesar da saudade e da vontade de rever a família, estava desconsolada, pois um sonho chegava ao fim. Aqueles 219 dias de viagem tinham passado rápido demais. Mas o destino foi gentil comigo e nos deu mais um dia de viagem. Com a mudança no voo que só ficamos sabendo na hora, ficamos um dia a mais em Lisboa, totalizando 220 dias de Volta ao Mundo. Hoje faz 1 ano que chegamos dessa que foi, até aqui, a nossa maior viagem. E passados 365 dias, agora sei, que aquele não era o fim de um sonho. Mas talvez, o início. Hoje encerramos mais um ciclo desse sonho, eu diria um segundo momento, e damos início a outro. Um segundo momento de reorganização, de reflexão, autoconhecimento e de muitas decisões. Uma das mais importantes delas, tomamos recentemente, e é com muita alegria que comunico que, a partir de agora, seremos Nômades Digitais. E a Volta ao Mundo não será mais um sonho que realizamos, mas algo permanente, ou pelo menos, eterno enquanto durar.
Ciclo pós Volta ao Mundo
Como era esperado, o período pós Volta ao Mundo não foi dos mais fáceis, mas posso dizer que foi, sim, mais fácil do que esperávamos e para o que estávamos preparados. Os primeiros meses após a chegada foram os mais difíceis, pois não tínhamos nossa casa, tínhamos muitas contas a pagar, os amigos tinham seguido suas vidas e nós tínhamos perdido muitos momentos juntos. Eu estava sem trabalho e Fred começava em um novo. Tudo em volta parecia a mesma coisa, mas a gente tinha mudado. E a parte mais complicada era que as pessoas achavam que tínhamos matado nossa vontade de viajar, enquanto ela só tinha aumentado.
Aproveitamos o ano para experimentar, eu especialmente. Tentei várias coisas, todas relacionadas a viagem e comunicação. E só de uma coisa eu tinha certeza, não queria trabalhar com nada que me prendesse e me impedisse de viajar. Fred, no entanto, acabou conseguindo, um dia após nossa chegada um emprego de 40h semanais. E sem poder tirar férias, acabei tendo que fazer algumas viagens sozinhas.
Uma das coisas que tinha muito receio no pós Volta ao Mundo, era de ter que ficar muito tempo sem viajar, mas por sorte até que conseguimos fazer algumas viagens. E tive a oportunidade de fazer uma coisa que há muito tempo desejava, conhecer mais o quintal de casa, viajar mais pelo Brasil. Durante a viagem me incomodou muito o fato de conhecer estrangeiros que tinham viajado mais pelo Brasil do que nós. E assim fomos juntos para Porto de Galinhas, passamos o Carnaval no Rio de Janeiro, viajamos durante a Copa do Mundo para Fortaleza para ver o Brasil jogar e para o Rio, novamente, para ver a Argentina perder na final. Também aproveitamos para viajar mais pelo nosso Rio Grande do Norte. Sozinha fui a Paraty, São Paulo, Belo Horizonte, Ouro Preto e Mariana. Com uma amiga também viajei para Argentina e Uruguai. E em uma experiência nova, levei um grupo para Manaus e pude, finalmente, conhecer um pedacinho da Amazônia.
Vida Nômade
Como desde que cheguei resolvi não ter mais emprego com horário a cumprir, eu já era poderia ser o que se chama de Nômade Digital. Mas Fred não. Por isso, ainda estávamos muito presos e tive que ficar sem a companhia do meu melhor parceiro de viagens e de vida durante alguns momentos este ano. Mas, agora, o destino mais uma vez foi gentil com a gente. E quando menos esperávamos e mais desejávamos, surgiu uma nova oportunidade de emprego para Fred, desta vez, um trabalho remoto na área dele. A empresa é estrangeria, mas tem sede em Pipa-RN e é por lá que vamos começar nossa aventura nômade.
Para quem não sabe e está voando, nômades digitais são pessoas que dependem exclusivamente de internet ou outras tecnologias para trabalhar e, por isso, não precisam ter hora ou local fixo de trabalho. E, assim, podem levar uma vida nômade, viajando quando bem entenderem.
Bem, nós vamos começar passando uma temporada de 2 meses em Pipa, a partir da próxima quinta-feira (20). Este fim de semana já estivemos lá e já encontramos a casa onde vamos ficar. E, depois, só Deus sabe. Estou me esforçando ao máximo para não fazer planos (quem me conhece sabe o sacrifício que é para mim). Mas a ideia é alternar entre passar uma temporada fora e uma temporada em casa, alternando com períodos não muito longos! Sim, porque em agosto voltamos para o nosso apê, redecoramos ele todinho, e não quero mais alugá-lo e ter que esperar 1 ano para tê-lo de volta e também não queremos ficar muito tempo longe da família.
E, assim, pretendemos ir fazendo uma Volta permanente pelo Mundo. Desta vez, sem importar se em sentido horário ou anti horário. Se para perto ou longe. Sem pressa, sem tantas expectativas. Apenas viver e viajar, como fazia o homem desde o início da história.
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