Durante a nossa Volta ao Mundo, em 2013, ficamos 3 meses no Sudeste Asiático e organizamos nosso roteiro de acordo com o período de monções em cada país, mas, infelizmente, por causa das chuvas e do tempo curto, dois países que queríamos visitar ficaram de fora: Laos e Vietnã, que quero muito ir em uma próxima viagem para o SA (quem sabe no próximo ano =) ).

Patricia Takehana, do blog Bagagem de Memórias, incluiu os dois países no seu roteiro de Volta ao Mundo e se surpreendeu com o Vietnã. Ela escreveu um post sobre este país, especialmente para o Compartilhe Viagens, e, nele, conta porquê gostou tanto de lá. O Bagagem de Memórias, inclusive, hoje está completando 4 anos e a Pati está de parabéns! Vida longa ao blog!

Patrícia com a guia, da tribo Zao, em Sapa
Patrícia com a guia, da tribo Zao, em Sapa

Vietnã por Patricia Takehana

Foi durante o planejamento de uma volta ao mundo que o Vietnã entrou na minha vida. Eu praticamente nada sabia sobre ele, além das histórias de guerra e de um tal lugar chamado Ha Long Bay, listado como uma das maravilhas naturais do mundo. Dediquei cerca de 20 dias para conhecer o país.

Sorrisos fáceis por todos os lados, às vezes largos, às vezes meio tímidos, mas sempre presentes. O povo muito simpático e receptivo, o arroz como base da culinária, os turistas caindo nos mesmos golpes, aquela impressão de tudo ser
muito bagunçado e incrivelmente funcionar.

Não se engane achando que o Vietnã é mais do mesmo de Tailândia, Camboja ou Laos.

Same same, but different, sabe? Apesar de geograficamente muito próximos, algumas coisas são bem características.

O Vietnã foi colônia da França por anos e isso é visível na arquitetura, principalmente das cidades grandes, e nos crepes franceses servidos no café da manhã. Outro ponto bastante diferente é que, mesmo sendo um país predominantemente budista, não tinham monges caminhando pelas ruas e, pra ser sincera, acho que vi apenas 2 templos em todo o tempo que estive por lá.

Um país sem regras

Trânsito em Ho Chi Minh City
Trânsito em Ho Chi Minh City

Sabe quando dizem que a primeira impressão é o que fica? Tudo mentira, pelo menos quando se fala em Vietnã. Nos meus dois primeiros dias no país, tudo o que eu conseguia ver era o trânsito caótico e insano. Motos e mais motos por todos os lados, inclusive andando pelas calçadas e com crianças no comando. Veja bem, eu moro em São Paulo, cresci acostumada com engarrafamentos e passava horas e horas dentro do carro só para conseguir chegar no escritório ou voltar para casa. Nosso trânsito nada tem a ver com o deles. Desde que estive em Ho Chi Minh City (HCMC) eu nunca mais reclamei dos motoqueiros loucos e dos motoristas barbeiros da minha cidade.

Logo que cheguei, eu precisava trocar dinheiro e o simpático mocinho da recepção do hostel em que eu estava me explicou onde ir e até rascunhou um mapa em um pedaço de papel. Vocês precisavam ver a cara que ele fez quando eu perguntei indignada se precisava mesmo atravessar duas ruas para chegar e depois cruzá-las no caminho de volta. Pois é, atravessar uma pequena rua me causava uma ansiedade extrema porque eu tinha certeza que ia ser atropelada por uma moto que ia simplesmente aparecer na minha frente sem eu saber de onde. Depois de dois ou três dias eu passei a não mais me importar com isso. Andava na rua como se ela fosse toda minha, sem mais preocupações, e quando uma (ou muitas) motos apareciam, eu apenas olhava para os motoqueiros e dizia mentalmente “desviem de mim”. Magicamente, isso acontecia mesmo.

É um país meio sem regras mesmo e não apenas no trânsito. Não é muito difícil encontrar lojas próximas, do mesmo segmento, que concorrem entre si e com o mesmo nome. Parece que quando uma dá muito certo, as outras copiam o seu nome para conseguir mais clientes.

Simples assim. Cuidado quando tiver uma indicação de local para ir, anote muito bem o endereço e tente ver fotos para ter certeza de que está entrando no lugar certo. Agências de viagem estão entre as que têm clones por aí.

Tudo isso faz parte do choque cultural, natural quando nos encontramos em um lugar de tradições e raízes tão diferentes. É sempre um novo aprendizado, uma nova chance de olhar o incomum sem julgar como certo ou errado e apenas entender que cada país tem a sua cultura e a sua forma de funcionar. Aquela primeira impressão caótica passou e deu lugar à admiração pelo país e pelo seu povo.

Um país de guerras

Uma das fotos mais emblemáticas da Guerra do Vietnã
Uma das fotos mais emblemáticas da Guerra do Vietnã

Já parou pra pensar que a Guerra do Vietnã terminou pouco mais de 40 anos? É muito recente! Como diziam os Engenheiros do Hawaii, “mandado foi ao Vietnã lutar com os vietcongs. Rata tatatá…”.

Dá pra falar desse país sem mencionar as tantas guerras seguidas de quais foi palco? Com o término da II Guerra Mundial (1945), o mundo viveu o período da guerra fria, a disputa de poder entre o capitalismo, encabeçado pelos Estados Unidos, e o socialismo, defendido pela União Soviética. Some a esse contexto a Guerra da Indochina (1946-1954), quando a França tenta recuperar território das suas colônias que havia sido tomado pelo Japão, ao mesmo tempo em que os países da região buscam independência. É nesse cenário que o Vietnã se divide em Vietnã do Norte (comunista) e Vietnã do Sul (capitalista).

Tanque americano da Guerra do Vietnã
Tanque americano da Guerra do Vietnã

Os EUA vendo, o comunismo se expandir na Ásia (com URSS, China e Vietnã do Norte), investe no Vietnã do Sul com ajuda financeira, armas e treinamento militar. E para impedir o crescimento do capitalismo, os comunistas preparam os vietcongs. Não precisa de muita explicação para entender que um dos mais longos e violentos conflitos do século XX estava para acontecer. A Guerra do Vietnã começa em 1959.

Os vietcongs invadem o Vietnã do Sul e os EUA bombardeiam o território, inclusive com armas químicas, sendo a mais conhecida delas o Agent Orange. Porém, os americanos lutavam em um terreno desconhecido e sem experiência nesse tipo de conflito. Além disso, a pressão popular nas Américas pelo fim da guerra faz com que os EUA saia do conflito em 1973. Este termina em 1975, com a vitória do Vietnã do Norte e o país é unificado como república socialista no ano seguinte.

O conflito chegou ao fim, as consequências ficaram. Milhões de pessoas feridas ou mutiladas, sem contar os mortos. Campos devastados, cidades destruídas, famílias separadas, crianças nascendo com deformidades devido ao Agent Orange. Prejuízo econômico enorme e o moral e sentimental é incalculável. É possível ver fotos, os tanques e aviões de guerra e muita informação sobre essa época no War Remnants Museum, em HCMH, a antiga Saigon, capital do Vietnã do Sul.

Crianças nascidas com deformidades devido ao Agent Orange
Crianças nascidas com deformidades devido ao Agent Orange

Outro passeio interessante é conhecer os Cu Chi Tunnel para ver bem de perto os túneis que os vietcongs usaram durante os conflitos (e até entrar neles). Fica muito fácil entender porque os americanos perderam a guerra depois de ver toda a estratégia envolvida nesses caminhos subterrâneos. Os vietcongs viveram debaixo da terra enquanto tudo lá pra cima estava sendo bombardeado. Os túneis eram muito pequenos, o que dificultava a passagem dos americanos, que tinham porte grande, além disso, eram verdadeiros labirintos cheios de armadilhas. Isso é só uma pincelada, porque tem muitos outros detalhes que foram fundamentais para o desfecho que a guerra teve.

Apesar de muito interessantes, lugares que contam fatos de guerra são sempre tristes e pesados. Mesmo assim, eu acho que sempre vale conhecê-los, não apenas pela cultura e aprendizado, mas pela memória. Algumas histórias nunca
podem cair no esquecimento para que não voltem a acontecer.

O que impressiona é que a guerra é recente e muitos dos vietnamitas de hoje viveram durante essa época terrível ou no período pós-guerra, que nunca é fácil. Nem momentos difíceis como estes tiram o sorriso do rosto dessas pessoas.

Um país de encantos

Montanhas da região de Sapa
Montanhas da região de Sapa

Chega de falar de coisa triste. O Vietnã tem uma das 7 maravilhas naturais do mundo e isso não pode passar batido. O lugar faz jus ao título. É realmente lindo! Poucas horas separam a caótica Hanói da tranquilidade e imensidão das águas de Ha Long Bay.

Os cruzeiros pela baía são bem populares e tem pra todos os bolsos. Cuidado para não cair em uma agência de nome clonado e comprar gato por lebre.

Também recomendo fortemente evitar o passeio de 1 dia, pois você vai passar mais tempo dentro de uma van, na estrada, que dentro do barco velejando. Eu fiz o cruzeiro de 3 dias, com direito a tempestade no meio do caminho, que obrigou o barco a mudar todo o roteiro. Não importa, Ha Long é incrível: praias, cavernas, trilhas e ilhas, tem de tudo um pouco.

Minha cidade preferida é, sem sombra de dúvidas, Hoi An. Nem ao norte, nem ao sul, ela fica bem no meio do país. Um refúgio para se esconder do caos de Hanói e de HCMC. Hoi An praticamente não tem carros e poucas são as motos, lá eu ia de um lugar pro outro de bicicleta. O ambiente é agradável e a energia positiva. Tem lanternas orientais enfeitando a cidade toda, uma graça! E a atração principal é rechear a sua mala (e futuramente o armário) de roupas feita sob medida por estilistas locais, tudo a preço de banana. Sabe aquele vestido de grife que você sempre quis e nunca teve coragem de pagar? Eles fazem, por pechincha. Vi meninos levando ternos que vestiam perfeitamente, com gravata, colete e até o lencinho que vai no bolso. Os mais estrambólicos também (não tem outra palavra pra descrever a mistura de estampas e cores que eles mesmos escolheram).

As montanhas da região de Sapa marcaram dias especiais. Sapa fica relativamente perto de Hanói, sentido interior, quase na fronteira com o Laos. Cheguei na cidade bem cedinho e foi lá no ponto final do ônibus, no meio da rua mesmo, que eu e o americano que passaria os próximos dois dias comigo, conhecemos nossa guia. Ela era da tribo Zao e iria nos levar pelas montanhas, entre plantações de arroz, crianças sem calças correndo por aí e porcos livres, apesar de terem donos. A paisagem é incrível e a imersão cultural sensacional.

Dormimos em uma das casas da tribo e nossos hosts fizeram nossa janta.

Nossa guia tinha quase 10 anos a menos que eu, mas aparentava ser uns 15 anos mais velha. Até hoje não tenho certeza do nome dela. Eu entendi fam, o americano, farm. Pedimos para ela repetir e continuamos no mesmo impasse. Então, dissemos para ela escrever, assim ficaria fácil. Ela nunca aprendeu a escrever, começou a trabalhar muito cedo para ajudar a família e não foi para a escola. Perguntamos também onde ela tinha aprendido o inglês, afinal a sua língua-mãe era o idioma Zao e seu inglês era fluente. “Com os turistas”, ela respondeu. Ela teve poucos meses para aprender uma nova língua e garantir seu trabalho como guia. Vietnamitas sendo vietnamitas: vida difícil e o sorriso no rosto. Não importa se na cidade ou no meio da montanha, eles simplesmente são assim.

Sopa e cerveja vietnamita
Sopa e cerveja vietnamitas

São essas e outras histórias que marcam uma visita ao Vietnã. E eu nem falei das praias, da cerveja mais barata do mundo, dos ônibus peculiares, da cidade dos russos, dos passeios de moto, do taxista que quis me enrolar. Tem história que não acaba mais. Um país de passado difícil e com muito potencial para crescer. Com lugares incríveis, cheio de histórias para contar. Com sabores e temperos exóticos e deliciosos – fica a dica para os amantes de coentro (hmmm…) e para os aventureiros que querem provar insetos e carne de cachorro (não pra mim). E com um povo que encanta por sua simplicidade, disposição em ajudar e alegria.

Você ainda não conhece o Vietnã? Acho que você deveria pensar sobre esse assunto.

Leia mais sobre o Vietnã em outros posts escritos pela Patricia no seu blog Bagagens de Memórias:

http://www.bagagemdememorias.com/mundo/asia/vietna/ 

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