Olá viajantes!

Como disse ontem na semana de comemoração do mensário do blog teríamos muito Brasil e escolhemos os destinos a dedo. Vocês vão ver muita beleza por aqui. E hoje a jornalista, Patrícia Cordeiro nos leva a uma viagem a Manaus e à Floresta Amazônica, com texto encantador e imagens belíssimas de encher de orgulho qualquer brasileiro.

Boa Viagem!

Manaus por Patrícia Cordeiro

Essa coisa de rio escuro e rio claro se misturando sempre foi um mito na minha cabeça. Quando pensava em rio, sempre imaginava um monte de água clara ou barrenta, correndo pro mesmo lado e tinha certeza de que sempre dava pra ver a outra margem, mesmo que lá de longe. Conhecer Manaus derrubou esses mitos. Fiquei hospedada na casa de um casal de amigos. Ele é capitão aviador da FAB e eles moram na vila militar, às margens do rio Negro! Mesmo. O quintal da casa deles é o rio. E a outra margem? Essa eu só vi atravessando de barco.

O Amazonas é um destino pouco cogitado pelos brasileiros, e muito visado pelos estrangeiros. Vi muitos japoneses e coreanos, por conta das indústrias – boa parte da economia do estado vem das indústrias de minérios e vários outros itens naturais explorados por lá, inclusive borracha, madeira e mais um monte de coisa que a gente nem imagina. Pelo mesmo motivo a população é muito dividida entre nativos e migrantes. Engenheiros, militares, profissionais de indústria de todos os tipos e suas famílias lotam a cidade. Por esse motivo também, uma das coisas mais tristes que vi: a diferença social. Em Manaus, se você é rico, você é muito rico. Se você é pobre, é bem pobre. A classe média é basicamente formada por funcionários públicos, incluindo os militares, e as exceções são bem raras.

Para começo de conversa, vale destacar que Manaus não é o fim do mundo que muita gente pensa. São 1 832 423 habitantes de acordo com o último censo. A cidade tem de tudo. Moro em Natal e ouço reclamações constantes de falta de opção de cultura e lazer. Bem, em Manaus tem o que fazer de segunda a segunda. Rock, sertanejo, forró, tuts tuts de boate, shows, teatro, passeios de barco (lá ao invés de casa de praia os mais abastados curtem o domingo numa lancha ou num iate no rio).

O roteiro musical é fácil de conseguir. Qualquer morador ou nativo pode informar onde é a balada do dia. Eu recomendo o Porão do Alemão às quintas, dia de rock. Às quartas, escolha uma boate que cabe no seu bolso. Dentro do hotel Blue Tree de lá tem uma que esqueci o nome, caríssima, imensa, digna de novela; fui convidada, não paguei consumo (a entrada era R$ 60 feminina só para sorrir lá dentro. Uma Heineken long neck era uns R$ 15) e, apesar de não gostar muito de boate, curti a noite. Aos domingos tem sertanejo e por aí vai. Escolha seu gênero!

O encontro das águas

Mas, vamos ao mais bacana: os passeios ecológicos. Lá tem um bairro chamado Ponta Negra que é o mais rico da cidade. São prédios e condomínios dignos das novelas do Manoel Carlos. E os hotéis, então, nem se fala! Em um deles, o Tropical Resort, tem até um zoológico dentro. Por R$ 20 qualquer um pode visitar e vale a pena. E é neste hotel que tem os pacotes para os passeios de barco turísticos que você, provavelmente, vai fazer no circuito comercial. O passeio sai todos os dias, as 8h, lá do hotel. São alguns muitos minutos de barco até o encontro das águas, uma das coisas mais fantásticas que já vi dentro de rio. É de verdade, aquela imagem dos livros de Geografia! Os rios Negro e Solimões seguem por mais de 1 km divididinhos, nitidamente se paquerando e namorando até virarem o Amazonas. É mágico. Parece leite com café, tentando se misturar sem conseguir.

Encontro dos rios Negro e Solimões
Encontro dos rios Negro e Solimões

Depois de passar pelos dois rios, o barco segue até dentro da selva. Nesse percurso, se você tiver sorte, pode ver alguns botos nadando rio abaixo. Acostumados com o movimento do porto e dos barcos de turismo, eles não se encabulam e aparecem, vez em quando. Paramos num barco-restaurante-loja de artesanato para almoço e compras. De lá, seguimos a pé por uma ponte até um trecho que parece saído de um livro de Biologia: o lago das vitórias régias.

Vitórias régias
Vitórias régias

São centenas, enormes, floridas. A sensação é de que dá para andar por cima delas (e diz a literatura que elas agüentam uma criança de 3 anos em pé). Voltamos para o flutuante e vem a parte mais bacana do passeio: a voadeira. Aquele barquinho pequeno, com motor traseiro, que anda bem rápido na água, igual tinha na novela de Juma Marruá? Pois bem.

A voadeira leva todo mundo pra dentro da floresta, pelas margens alagadas do rio. Eu não sei bem ao certo em que rio estava ali, mas acho que era o Amazonas. Nesta parte do passeio o bom é sentir o cheiro da mata, o vento, observar os pássaros que passam voando por cima da gente, a sensação de que a qualquer momento vai aparecer uma cobra nadando, essas coisas.O barco para embaixo de uma árvore bem antiga e tem uns caras vendendo bala de cupuaçu nuns barquinhos.

Balas de Cupuaçu
Balas de Cupuaçu

Surreal. Essa da árvore foi uma das minhas fotos preferidas da viagem.

Seguimos rio afora em direção a outro flutuante, dessa vez para encontrar índios e ver o famoso pirarucu, um dos peixes mais tradicionais da Amazônia. Com as escamas dele se fazem armas e adornos e a carne é muito saborosa.

Tenho pena porque aqueles ali, em cativeiro, nunca devem ter visto a grandeza do rio onde nasceram. Mas são lindos.

Pirarucus
Pirarucus

Dois homens giram uma alavanca do criadouro e o fundo sobe, saindo da água, deixando os peixes à mostra.  A gente paga uma gorjeta pra eles.

Criadouro de Pirarucus
Criadouro de Pirarucus

Os índios não têm nada de folclórico no Amazonas. Não no circuito turístico. Sim, eles têm olhinhos puxados, são de um moreno lindo e os cabelos bem escuros (o das mulheres são pintados de vermelho e loiro, muitas vezes, quanto mais perto da cidade vivem, mais cores). Mas usam roupa comum, sabem ler, escrever e contar o dinheiro direitinho. Essa de “incapaz” pra indígena só na lei brasileira mesmo. Voltamos de voadeira até o barco e seguimos de volta para o hotel. O passeio do Encontro das Águas termina no final da tarde. Teve direito a boto – que só eu vi, todo mundo ainda estava subindo no barco – e foi muito bonito. Aliás, o pôr-do-sol no rio é uma coisa de doido. Vermelho como sangue. Poético mesmo.

Índios
Índios levam uma vida normal

Conhecendo os botos de perto

Um outro passeio bacana é ir até Novo Airão, uma cidade distante 115 quilômetros da capital, criada em 1955 e que tem botos curiosos e acostumados com as mãos cheias de peixe dos turistas. Lá, em um flutuante, você paga R$ 10 e fica sentado numa espécie de píer.

Os botos são livres, do rio, mas se aglomeram nesse local em busca de comida fácil.

Boto em busca de comida fácil
Boto em busca de comida fácil

Eles ficam ali perambulando e fazendo charme até que a tratadora chega com um balde de peixes e eles se aglomeram. Por uns minutos você consegue enganá-los, levantando as mãos como se fosse alimentá-los e eles pulam, ficam “em pé” na sua frente.

Com sorte, você consegue passar a mão embaixo deles. Cuidado! Não tem nada de sedoso. É uma textura meio gosmenta, parece uma geleia. Mas é macio e curioso.

Depois você pode procurar os restaurantes nos flutuantes (pena que não lembro o nome do que comemos, era uma delícia) para almoçar antes de voltar. No que fomos conhecemos uma turma bacana e demos até uma volta de bóia! Uma bóia enorme puxada por um barco, que o piloto fica te rodando no meio do rio. Muito bacana!

O triste deste passeio é ver, na estrada, o desmatamento da floresta nas fazendas. Imagino o quanto a especulação é grande por lá. Em algumas delas tem até guarita, com capanga armado de pistola, guardando a propriedade. Não sei o que se passa lá dentro, mas ou a floresta é um ambiente muito inseguro, ou essas fazendas não são todas para lazer e diversão.

Passeios urbanos

Claro que não dá para deixar de falar dos passeios urbanos. O zoológico é obrigatório. Espécies lindas de animais, desses que, se você não tem zoológico por perto, passa anos sem ver.

Vale também ir até o centro, visitar o mercado público (se tiver sorte e for época, compre cupuaçu fresco, a fruta mesmo), encher a mochila de balas de cupuaçu e castanha para presentear os amigos, comprar bijuterias manauaras e, claro, fazer o tour do Teatro Amazonas.

Teatro Amazonas
Teatro Amazonas

Um dos mais lindos que já vi. Fundado em 1896, é fruto da época rica do ciclo da borracha no Brasil. Em frente a ele tem um monumento que representa os cinco continentes, colocado também nessa época de colonização e uma praça super agradável.

Monumento representa os continentes
Monumento representa os continentes

Vale observar do lado direito do teatro, lá embaixo, uma banca de revistas com ar de antiga. Ponto para foto.

No mais, leve roupas leves. A cidade é úmida e eu cheguei a pegar 41º em alguns dos 10 dias que passei por lá. E vá com dinheiro sobrando – não é um lugar barato para visitar. E, se tiver tempo e coragem, faça um salto de para quedas por cima do Encontro das águas! Eu fiz. Mas isso fica para outra história.

É muita beleza para um lugar só! O que vocês acharam? Conte para gente, deixe aqui seu comentário!


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