Hoje completamos 1 ano de nosso retorno da Volta ao Mundo e, mesmo após tanto tempo pós viagem, ainda estou absolvendo todas as lições que tirei desta aventura, que um dia me pareceu um sonho impossível. As dez mais importantes delas têm pautado a nossa vida pós Volta ao Mundo:

1- Respeito à Diversidade

Ao longo de toda vida vamos acumulando preconceitos que formamos a partir do que vemos e ouvimos em casa, na escola, amigos, na televisão. Enfim, ninguém está livre disso. É apenas quando vivenciamos ou conhecemos de perto os alvos dos nossos preconceitos que podemos entender ou perceber que aquela visão, que dávamos como certa, é equivocada. Uma das coisas mais importantes que se aprende viajando pelo Mundo é deixar o maniqueísmo de lado. A cor branca, por exemplo, que simboliza paz e outras conotações positivas no Ocidente, está associada ao luto na cultura oriental. Se arrotar à mesa é um sinal de extrema falta de educação para nós, para algumas culturas pode ser um sinal de gratidão. Se para os ocidentais, tocar na cabeça de uma criança é sinal de carinho, na Ásia é uma atitude que deve ser evitada, pois a cabeça é uma parte do corpo considerada sagrada. Aprender a respeitar as diversidades e as demais culturas, sem dúvida, foi um das maiores lições de nossa Volta ao Mundo.

2- Viajar de mente aberta

Pad Thai, uma das iguarias tailandesas
Pad Thai, uma das iguarias tailandesas

Quando estávamos na Itália, li em um cartaz em uma vitrine de Lucca, na Itália, “Não viajo para conhecer o Mundo, mas para descobrir-me”. De todas experiências vivenciadas pelo homem, talvez, viajar seja uma das que mais ensine e que mais proporcione o auto conhecimento, mas isso não acontece a todos os viajantes e em todas as viagens. É preciso viajar de mente aberta, e estar disposto a mudanças, conhecer as pessoas, lugares e culturas sem fazer julgamento e aprender um pouco com cada um. E experimentar. Eu passei o primeiro mês de viagem comendo spaguetti porque tinha receio de provar a comida asiática (frescura, eu sei). E depois que comi meu primeiro Pad Thai é que vi o que eu estava perdendo. Então, não tenha medo, experimente sempre. É assim que você terá um verdadeiro contato com as culturas que está conhecendo. E isso não serve só para comida.

3- Kharma

Buda deitado de Ayutthaya, famoso cenário do game Street Fighter
Buda deitado de Ayutthaya, famoso cenário do game Street Fighter

Nos três meses que passamos no Sudeste Asiático, onde a maioria dos países é budista, ouvimos muito sobre Kharma, que explicando de forma simplificada, se refere às nossas intenções e atitudes, que podem ser boas, más ou neutras, e o retorno que temos a partir delas. Boas intenções geram bons frutos, más intenções geram maus frutos. A ideia do Kharma não é exclusiva do budismo e também é propagada pelo hinduísmo e pela doutrina espírita, de formas diferentes. A doutrina espírita, explica o Kharma usando a terceira lei de Newton de “ação e reação” como metáfora. O fato é que, desde que estivemos na Ásia, tenho tentando aplicar isso em minha vida, buscado sempre o bom Kharma não só com atitudes, mas com pensamentos positivos também.

4- Valorizar coisas e momentos simples

Komin, uma das crianças de Bagan, que passamos a tarde conversando
Komin, uma das crianças de Bagan, que passamos a tarde conversando

Quantas vezes por semana, você para para apreciar o por do sol? Quantas vezes, ao deitar-se, você lembra que ter uma cama, um lençol e um teto para dormir pode ser um luxo? Quantas vezes você para sua rotina corrida de 8h de trabalho e 2h de trânsito para puxar conversa com um estranho? Viajar pelo mundo nos proporcionou viver de uma forma simples e valorizar cada detalhe do nosso dia. Tinha 7 mudas de roupas, não sabia em que superfície iria dormir, comia na rua, andava de transporte público, não usava maquiagem, não fazia as unhas e alternava entre um par tênis, um par chinelos e um par de sapatilhas. Mas podia me dar ao luxo de em um mesmo dia, observar o nascer e o por do sol, de fazer 5 novos amigos e jogar conversa fora com um pescador ou um monge budista. Com isso, aprendi a valorizar coisas tão simples que antes se quer dava atenção, como ter uma cama para dormir, uma roupa limpa, um prato farto de comida. E, era justamente isso, que mais me encantava durante a Volta ao Mundo, viver de forma tão simples e ser tão feliz.

5- Há mais pessoas boas do que más no Mundo

Família filipina que nos deu carona
Família filipina que nos deu carona

Com tanta desgraça, violência e notícias ruins, chegamos a acreditar que há mais pessoas más do que boas no mundo. Mas, em nossos 219 dias de viagem por 5 continentes, tivemos a sorte de encontrar muitas pessoas boas, que nos ajudaram em momentos críticos, sem receber nada em troca. O que me leva a ainda ter esperança nesse Mundo. Como jornalista, sei que notícia boa não rende manchete como notícia ruim e, por isso, as boas pessoas e as boas ações acabam ficando no anonimato. No período de nossa Volta ao Mundo, nunca fomos assaltados, nunca sofremos violência. Claro que teve gente que tentou nos passar para trás, enganar os “turistas”, supervalorizar o preço de algum produto, mas nada demais. E teve gente também que nos deu carona quando mais precisávamos; que nos deu casa, comida e roupa lavada e até presentes, que tinham um valor enorme para aquelas pessoas.

6- Carpe Diem (aproveitar o momento)

Saudade desse dia perfeito. Pôr do Sol em Oia
Saudade desse dia perfeito. Pôr do Sol em Oia

“A única coisa tão inevitável quanto a morte é a vida.” A frase de Charles Chaplin é praticamente um mantra para mim. A maior parte das pessoas passa a vida toda adiando planos, sonhos e esperando a aposentadoria para ser feliz. Mas, a verdade é que ninguém sabe quanto tempo tem. A Volta ao Mundo nos proporcionou viver cada dia intensamente, aproveitando o momento e buscando sempre fazer o que nos deixava felizes. E isso pode não ser tão fácil no dia a dia de trabalho, rotina, contas a pagar e obrigações, mas se não priorizarmos isso em nossa vida, nunca teremos tempo de aproveitá-la.

7- Viajar leve, viver leve

Esse sorriso aí, foi quando a mochila estava vazia! :)
Esse sorriso aí, foi quando a mochila estava vazia! 🙂

Em nossa viagem, levamos 13 kg cada um, 10 kg na mochila maior e 3 kg em uma menor, com computadores e outros acessórios eletrônicos para 7 meses. Mas acredita que ainda assim muito do que levamos não usamos? Além disso, no caminho fomos perdendo várias coisas e que sequer nos dávamos conta. Viajar com uma bagagem leve, torna a viagem mais s ágil nos dias de mudança e tudo menos cansativo, além de ser mais econômico, pois uma bagagem pequena de até 10 kg permite, por exemplo, voar nas companhias de low cost sem pagar bagagem extra, que muitas vezes, saem o preço da passagem.

Procuro trazer esse aprendizado também para vida, quando trazemos uma carga emocional pesada, tudo se torna mais difícil, os problemas parecem maiores do que realmente são. Mas já quando encaramos as coisas com mais leveza, tudo parece fluir melhor.

8- Planejar menos e ter mais surpresas

Em Germany Island, ilha onde dormimos sem planejar
Em Germany Island, ilha onde dormimos sem planejar

Antes da Volta ao Mundo, a minha vida era completamente planejada. Minhas amigas brincavam que eu sabia exatamente o que estaria fazendo em 2020. Quando se tratava de viagens, a situação era ainda mais séria, organizava tudo nos mínimos detalhes, até a hora de tomar banho. Com a Volta ao Mundo, aprendi que planejando menos, temos mais surpresas. Todo mundo pergunta como fizemos para planejar sete meses de viagem. Mas a verdade é que nós só planejamos os destinos que queríamos ir e não tudo o que iríamos fazer em cada um deles. Até a hospedagem, fazíamos a reserva ou no dia anterior ou procurávamos um lugar quando chegávamos ao destino. Sem roteiro definido, muitas coisas boas aconteceram e conhecemos alguns dos lugares mais incríveis. Claro que é preciso ter o mínimo de planejamento em tudo que se faz, mas sem engessar, o que torna tudo mais estressante. Com isso, aprendi a dar sempre uma chance ao acaso e as surpresas que ele proporciona.

9- Vida real não significa seguir padrões

Whitsundays podia até parecer um sonho, mas era bem real!
Whitehaven podia até parecer um sonho, mas era bem real!

Quando regressamos de viagem, muitas pessoas disseram: sejam bem vindos de volta a vida real! Os nossos sete meses de viagem podem ter sido, sim, um sonho que vivenciamos, mas a verdade, é que para mim, a vida nunca foi tão real quanto naqueles 220 dias. Trabalhar oito horas por dia, cinco ou seis dias por semana, pegar duas horas de congestionamento na ida e na volta, pagar as contas do fim do mês, cuidar dos filhos, assistir a novela e sair sempre com os mesmos amigos, não é uma vida mais real do que a de outras pessoas.

E só quando a gente bota o pé para fora do círculo que fizemos em volta de nós mesmos, que nos limita a ter essa vida esquematizada, é que percebemos que esse pode até ser um caminho. Mas não é o único.

10- Não há sonho impossível

Partenón, o lugar que mais sonhei em conhecer no Mundo
Partenón, o lugar que mais sonhei em conhecer no Mundo

Quando decidimos fazer a Volta ao Mundo, nós já éramos casados há 3 anos, tínhamos nosso apartamento próprio, empresa e empregos. As pessoas acham que esse tipo de viagem é só para quem está insatisfeito com a vida ou para quem tem muito dinheiro e pode se dar ao luxo de viajar por muito tempo. Mas não é. Para realizar esse sonho, abrimos mão de muita coisa e ainda estamos,1 ano depois, “pagando este preço”, mas nada se compara com o que vivemos e aprendemos. Um dia eu também cheguei a duvidar desse sonho. Mas agora sei que não há sonho impossível quando se tem determinação.

Havia escrito este post há alguns meses para um outro site, mas acabou não entrando. Guardei na gaveta e não vi momento mais propício para publicá-lo. As reflexões que tenho feito pós viagem também têm rendido algumas crônicas que venho escrevendo ao longo do ano e quem sabe, futuramente ou em breve, reunirei em um livro ou e-book. O que vocês acham? 

 


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